Vivo com a cabeça no “mundo da lua”, muitos dizem. Se é verdade absoluta, nem eu mesma sei. O fato é que, o que pode ser bastante aborrecido para alguns, para mim é delicioso. Não há nada mais bonito do que olhar distraidamente para qualquer lugar, pensar em várias coisas ao mesmo tempo e até pensar em nada. Hoje a tarde, enquanto todos estavam muito ocupados aqui em casa, fui até a janela do meu quarto e fiquei ali por um bom tempo. Olhei o céu, as casas, as pessoas nas ruas, as pessoas nos carros, os cachorros de rua, os gatos nos muros de suas casas, o sol, o céu de novo, os pássaros... E fiquei olhando para estes últimos. Olhando e pensando em como são, de certa forma, mágicos. Na hora eu pensei em fazer uma poesia, ou até em escrever um conto, depois desisti. Por mais que eu pensasse, palavras não foram bastantes para descrever o tamanho da minha admiração, carinho e, sim... Inveja desses animais tão abençoados. Subitamente, e por mais insano que possa parecer, me deu uma vontade enorme de voar.
E você pode até pensar que é besteira minha ou ingratidão com Deus, já que ele me permitiu pensar, raciocinar, falar, em vez de me dar asas, penas, o dom de cantar lindamente e morar em árvores. Mas acredite, naquele instante, eu trocaria a minha vida pela de um pássaro qualquer. Passou pela minha cabeça, também, que cada pássaro deve ter uma função especial, seja ela de simbolizar a paz, como as pombinhas, de simbolizar o verão, como as andorinhas, de divertir as pessoas, como os papagaios falantes, e até de agouro, como muitos acreditam que assim o fazem as corujas, gralhas, corvos e etc.
Quando ia pra Mosqueiro, há algum tempo atrás, e ficava na casa da minha avó, que tem um quintal imenso, eu sempre colocava em cima do muro pedaços de pão, de frutas e até sementes depois do café da manhã e do lanche da tarde. Era uma maravilha observar a grande quantidade de aves que ali apareciam e que pareciam se debruçar e apreciar um banquete. Às vezes até havia algumas rixas. Lembro-me bem que o bem-te-vi era quase sempre o mais encrenqueiro, mas todos eram umas graças. Eu não ousava me aproximar, pois eles fugiam ao menor e qualquer sinal de tentativa minha, mas eu não me importava. Sempre fui fascinada por bichos e preferia mantê-los ali, ao alcance da minha vista e, ao mesmo tempo, longe das minhas mãos, mesmo que eles nunca mais voltassem. Mas eles sempre voltavam! E quando eu vinha embora, que falta isso me fazia! Aqui eu moro em apartamento, e não tenho muro. E não é que, em algumas raríssimas vezes, flagrei passarinhos na cozinha? Mesmo assim, fica muito mais difícil manter esse tipo de contato, o jeito é olhar pela janela mesmo.
Pois bem, se eu fosse um pássaro, faria questão de passar cada dia num lugar, mesmo que isso implicasse numa total desestruturação nos fluxos migratórios naturais da minha espécie. Eu apareceria em todos os biomas possíveis, mesmo que isso surpreendesse os biólogos mais experientes. E então eu vi que, humana e limitada como sou, mesmo assim, talvez eu ainda seja mais abençoada que o mais lindo dos pássaros. Abrir mão da sabedoria a favor do instinto? Não, eu não estaria preparada. Voar deve ser surreal, fascinante, esplêndido. Mas também se pode voar com os pés no chão, talvez sem o mesmo brilho, sem a mesma graça, mas todos podemos abrir asas e voar para onde quisermos.
Nós, homens, somos livres, e mesmo que estejamos trancafiados em alguma cela, ainda assim, podemos voar. Os pobres coitados dos pássaros só têm as asas para alçar vôo, e isso quando algum famigerado não os coloca dentro de gaiolas, privando-os do indescritível espetáculo de voar.
E você pode até pensar que é besteira minha ou ingratidão com Deus, já que ele me permitiu pensar, raciocinar, falar, em vez de me dar asas, penas, o dom de cantar lindamente e morar em árvores. Mas acredite, naquele instante, eu trocaria a minha vida pela de um pássaro qualquer. Passou pela minha cabeça, também, que cada pássaro deve ter uma função especial, seja ela de simbolizar a paz, como as pombinhas, de simbolizar o verão, como as andorinhas, de divertir as pessoas, como os papagaios falantes, e até de agouro, como muitos acreditam que assim o fazem as corujas, gralhas, corvos e etc.
Quando ia pra Mosqueiro, há algum tempo atrás, e ficava na casa da minha avó, que tem um quintal imenso, eu sempre colocava em cima do muro pedaços de pão, de frutas e até sementes depois do café da manhã e do lanche da tarde. Era uma maravilha observar a grande quantidade de aves que ali apareciam e que pareciam se debruçar e apreciar um banquete. Às vezes até havia algumas rixas. Lembro-me bem que o bem-te-vi era quase sempre o mais encrenqueiro, mas todos eram umas graças. Eu não ousava me aproximar, pois eles fugiam ao menor e qualquer sinal de tentativa minha, mas eu não me importava. Sempre fui fascinada por bichos e preferia mantê-los ali, ao alcance da minha vista e, ao mesmo tempo, longe das minhas mãos, mesmo que eles nunca mais voltassem. Mas eles sempre voltavam! E quando eu vinha embora, que falta isso me fazia! Aqui eu moro em apartamento, e não tenho muro. E não é que, em algumas raríssimas vezes, flagrei passarinhos na cozinha? Mesmo assim, fica muito mais difícil manter esse tipo de contato, o jeito é olhar pela janela mesmo.
Pois bem, se eu fosse um pássaro, faria questão de passar cada dia num lugar, mesmo que isso implicasse numa total desestruturação nos fluxos migratórios naturais da minha espécie. Eu apareceria em todos os biomas possíveis, mesmo que isso surpreendesse os biólogos mais experientes. E então eu vi que, humana e limitada como sou, mesmo assim, talvez eu ainda seja mais abençoada que o mais lindo dos pássaros. Abrir mão da sabedoria a favor do instinto? Não, eu não estaria preparada. Voar deve ser surreal, fascinante, esplêndido. Mas também se pode voar com os pés no chão, talvez sem o mesmo brilho, sem a mesma graça, mas todos podemos abrir asas e voar para onde quisermos.
Nós, homens, somos livres, e mesmo que estejamos trancafiados em alguma cela, ainda assim, podemos voar. Os pobres coitados dos pássaros só têm as asas para alçar vôo, e isso quando algum famigerado não os coloca dentro de gaiolas, privando-os do indescritível espetáculo de voar.