Nathália Carmem

Cansa dizer que o tempo não cura. Me encarreguei de não procurar verdades, mudanças, milagres, curas. Cansei. Porque o tempo é puro disfarce, ilusão. Os lugares, as lágrimas, as dores, as pessoas só adormecem dentro do peito, não morrem jamais. Coisa delicada, esse negócio de querer. Como a gente sabe se o que a gente quer é o melhor pra gente? Só existe um riso dentro de mim: um riso debochado de mim mesma, magoado comigo mesma. É inútil a sabedoria de que o tempo passa.
Quem me dera ser feliz pra sempre.
Nathália Carmem

Ok, eu sei que já se passaram alguns meses desde a morte de Michael Jackson. Não pense você que eu sou desatualizada. É puro charme: retomar um assunto que as pessoas já estavam esquecendo e que a mídia já cansou (finalmente!) de alardear. Coisa mórbida, né?
Quem me conhece sabe, nunca fui muito fã dele. Na verdade, nem simpatizar com ele, eu simpatizava. Admirava-o como artista que era, talentoso, sensível, impressionante. E como artista eu afirmo sem medo que ele é imortal. Só ele criou tanto, inovou tanto no universo pop, com clipes futuristas, voz singular e coreografias geniais.
Michael foi fonte de alegrias para milhões de pessoas no mundo inteiro, e de revolta também. Sempre achei que dentro dele havia um anjo e um demônio, mais do que em todos nós. Se posso dizer sem culpa que não era fã, também não posso negar que não lhe era indiferente. Michael tinha uma presença esmagadora. Causou uma histeria mundial, um amor incondicional em seus fãs, que o defendem incansavelmente e comoveu e arrancou lágrimas do planeta inteiro, principalmente no dia de sua morte.
Essa sim, pegou todos de surpresa, e até agora, quatro meses depois, é extraordinariamente estranho assimilarmos que Michael Jackson está morto. Sabemos que a infância dele foi conturbadíssima, e que Michael e os irmãos tiveram que aprender a gostar de música e a fazer dinheiro com ela. Uma educação cheia de rigor e até militarismos, de um pai que parecia se preocupar apenas com a realização artística e profissional dos filhos e com os lucros no final do mês. Se é que pensava nos filhos...
Juntos, fizeram sucesso e até ganharam prêmios, mas Michael já se destacava pelo timbre e pela graciosidade. Com o tempo e por misteriosas razões o Jackson Five passa a se chamar The Jacksons, mais ou menos na época em que Michael, paralelamente, lançava seu primeiro cd solo.
A partir daí, foi só uma questão de tempo até ele se tornar O Rei do Pop. Estranhamente, com o sucesso e a consagração, vieram pesadelos e polêmicas. O mundo começa a conhecer um outro lado do astro: um lado obscuro, coberto de mistérios. A perseguição paterna, para muitos, é a justificativa. Pessoalmente, não acredito muito nisso. Ou melhor, acredito. Mas sinceramente não acho que justifique tudo. O próprio Michael dava essa razão, quando perguntado sobre seus motivos para fazer tantas cirurgias plásticas: dizia que o pai o considerava feio. E o próprio pai assumiu ter dito, várias vezes ao filho, mesmo quando ainda era criança, que seu nariz era grande demais. Também acho possível Michael ter desenvolvido distúrbios de personalidade em razão das surras cruéis que levava. Enfim, se você me perguntar o que eu acho deste pai, é fácil: isso não era um pai. Mesmo assim, não acredito que o pai de Michael tenha influenciado na sexualidade um tanto esquisita dele. E eu digo esquisita porque a gente simplesmente não sabia se ele era homossexual, hetero, bi ou qualquer outra coisa. Não que isso importe, mas... Uma pessoa assim é ou não é estranha? E ainda tem a suspeita de pedofilia.
Os fãs mais apaixonados que me desculpem, mas vou dar minha opinião: ele era. Morar num rancho chamado “NeverLand”? Ter um parque de diversões dentro? Inventar passagens secretas para brincar “de se esconder”? Dormir com criancinhas? Pedir que lhe dêem leitinho e contem histórias antes de dormir? E ainda querem me convencer que ele era inocente? É demais pra mim.
Quanto à transformação de Michael, também não acredito na história da doença. Talvez fosse verdade, mas com tanto dinheiro, não tinha outra solução? Só mudando de cor mesmo? Não sei, não.
Agora uma coisa eu tenho que admitir: Michael também tinha seu lado bom. Abraçou causas sociais e anti-racistas e sinceramente eu creio que de boa-fé. Portanto, pelo artista hiper talentoso que foi, pela genialidade que tinha, pela graciosidade nos palcos, por toda a violência que sofreu, pelas coisas boas que fez, e pelo que disse sua filha, no dia da cerimônia do enterro do pai, eu perdôo e dou adeus a Michael Jackson. Talvez ele tenha sido realmente uma vítima, talvez não. Agora, isso tudo é tão pouco relevante! Inclusive o meu perdão... Afinal, eu também tenho um anjo e um demônio dentro de mim.