Nathália Carmem
Daqui a alguns anos, vou ter um milhão de reais. Um milhão não, um bilhão. Vou ser a pessoa mais linda, popular e querida do mundo. Ou, pelo menos, vou ser tudo isso só pra Ele. Vou viajar pra caramba. Conhecer gente em todos os lugares do mundo. Um dia, eu vou aprender a cantar, vou dançar tango, escrever um livro, pintar um quadro. Daqui a alguns anos, eu vou aprender a gostar das pessoas como elas são. Não me deixarei contaminar ou alienar pela mídia, pelo sistema ou por qualquer outra coisa. Um dia, vou jogar bola como um homem; conhecer o Rogério Ceni, o Luís Fabiano e o Diego Souza.
Um dia, vou comprar um carro. Vou comprar, também, um shopping (com todas as lojas pra mim, é claro); uma cobertura duplex, um apartamento de frente pra praia da Barra (RJ), uma fazenda (só pros meus bichos), um avião pra minha mãe, uma lancha pro papai e um cavalo pra Bia. Um dia eu volto a acreditar em contos de fadas, e volto a acreditar que posso muito bem esbarrar com o Príncipe William, fazer ele se apaixonar por mim e me casar com ele, só pra ser Princesa (por que não?). Um dia vou fazer uma pirâmide de bacuri com açúcar só pra mim. E quando eu estiver bem velhinha, posso muito bem descobrir uma fonte da juventude (por que não?).
Espetáculo do balé russo? Boates em Nova Iorque? Roleta e BlackJack em Las Vegas? Esportes Radicais na Nova Zelândia? Esquiar em Aspen? Compras na Champs’Elisées? Visistar a DisneyWorld? Farei uma dessas atividades em cada final de semana. Quando eu enjoar, penso em outras. Vou ser a pessoa mais inteligente do planeta, e SEM ESTUDAR! Vou falar todas as línguas e dialetos. Nada vai ser problema pra mim. A fome, a miséria e a injustiça serão exterminadas e, junto com elas, todas as outras mazelas sociais. Não vou ter medo de nada.
Vou saber voar, levitar, atravessar paredes, ficar invisível e até encolher. Um dia, eu vou dar uma voltinha lá pelo Espaço. Vou aprender artes marciais. Um dia, vou ter a paciência de um monge tibetano. Um dia, eu aprendo a valorizar o meu interior, e paro de me preocupar com essas futilidades, bobagens de moda, estética e beleza. Um dia, eu vou ser diplomata, professora de francês e bailarina de fama internacional. Como eu vou fazer isso eu ainda não sei. Um dia, vou ter o meu nome na Calçada da Fama, e uma estátua de cera (por que não?). Um dia, eu vou parar de esquecer onde guardo as minhas coisas. Vou ser muito charmosa. Um dia, eu vou casar e ter treze filhos (dez cachorros e trigêmeas). E aí, então, a minha vida vai ter sentido.
Algumas coisas são dificílimas de se conquistar. E outras até impossíveis. Mas existem aquelas que a gente adoraria e poderia muito facilmente fazer, mas deixamos pra depois ou “pra qualquer dia desses”. É fascinante a capacidade que temos de sonhar, planejar, imaginar nosso futuro, porém, mas importante que isso é sabermos realizar. Alguém sempre me diz que “sonhos existem para serem realizados”. Sábio, não? Eu sonho muito, muito mesmo. Mas vou parar de ficar só na imaginação e vou pôr em prática. E vou começar pela pirâmide de bacuri com açúcar.
Nathália Carmem

Cansa dizer que o tempo não cura. Me encarreguei de não procurar verdades, mudanças, milagres, curas. Cansei. Porque o tempo é puro disfarce, ilusão. Os lugares, as lágrimas, as dores, as pessoas só adormecem dentro do peito, não morrem jamais. Coisa delicada, esse negócio de querer. Como a gente sabe se o que a gente quer é o melhor pra gente? Só existe um riso dentro de mim: um riso debochado de mim mesma, magoado comigo mesma. É inútil a sabedoria de que o tempo passa.
Quem me dera ser feliz pra sempre.
Nathália Carmem

Ok, eu sei que já se passaram alguns meses desde a morte de Michael Jackson. Não pense você que eu sou desatualizada. É puro charme: retomar um assunto que as pessoas já estavam esquecendo e que a mídia já cansou (finalmente!) de alardear. Coisa mórbida, né?
Quem me conhece sabe, nunca fui muito fã dele. Na verdade, nem simpatizar com ele, eu simpatizava. Admirava-o como artista que era, talentoso, sensível, impressionante. E como artista eu afirmo sem medo que ele é imortal. Só ele criou tanto, inovou tanto no universo pop, com clipes futuristas, voz singular e coreografias geniais.
Michael foi fonte de alegrias para milhões de pessoas no mundo inteiro, e de revolta também. Sempre achei que dentro dele havia um anjo e um demônio, mais do que em todos nós. Se posso dizer sem culpa que não era fã, também não posso negar que não lhe era indiferente. Michael tinha uma presença esmagadora. Causou uma histeria mundial, um amor incondicional em seus fãs, que o defendem incansavelmente e comoveu e arrancou lágrimas do planeta inteiro, principalmente no dia de sua morte.
Essa sim, pegou todos de surpresa, e até agora, quatro meses depois, é extraordinariamente estranho assimilarmos que Michael Jackson está morto. Sabemos que a infância dele foi conturbadíssima, e que Michael e os irmãos tiveram que aprender a gostar de música e a fazer dinheiro com ela. Uma educação cheia de rigor e até militarismos, de um pai que parecia se preocupar apenas com a realização artística e profissional dos filhos e com os lucros no final do mês. Se é que pensava nos filhos...
Juntos, fizeram sucesso e até ganharam prêmios, mas Michael já se destacava pelo timbre e pela graciosidade. Com o tempo e por misteriosas razões o Jackson Five passa a se chamar The Jacksons, mais ou menos na época em que Michael, paralelamente, lançava seu primeiro cd solo.
A partir daí, foi só uma questão de tempo até ele se tornar O Rei do Pop. Estranhamente, com o sucesso e a consagração, vieram pesadelos e polêmicas. O mundo começa a conhecer um outro lado do astro: um lado obscuro, coberto de mistérios. A perseguição paterna, para muitos, é a justificativa. Pessoalmente, não acredito muito nisso. Ou melhor, acredito. Mas sinceramente não acho que justifique tudo. O próprio Michael dava essa razão, quando perguntado sobre seus motivos para fazer tantas cirurgias plásticas: dizia que o pai o considerava feio. E o próprio pai assumiu ter dito, várias vezes ao filho, mesmo quando ainda era criança, que seu nariz era grande demais. Também acho possível Michael ter desenvolvido distúrbios de personalidade em razão das surras cruéis que levava. Enfim, se você me perguntar o que eu acho deste pai, é fácil: isso não era um pai. Mesmo assim, não acredito que o pai de Michael tenha influenciado na sexualidade um tanto esquisita dele. E eu digo esquisita porque a gente simplesmente não sabia se ele era homossexual, hetero, bi ou qualquer outra coisa. Não que isso importe, mas... Uma pessoa assim é ou não é estranha? E ainda tem a suspeita de pedofilia.
Os fãs mais apaixonados que me desculpem, mas vou dar minha opinião: ele era. Morar num rancho chamado “NeverLand”? Ter um parque de diversões dentro? Inventar passagens secretas para brincar “de se esconder”? Dormir com criancinhas? Pedir que lhe dêem leitinho e contem histórias antes de dormir? E ainda querem me convencer que ele era inocente? É demais pra mim.
Quanto à transformação de Michael, também não acredito na história da doença. Talvez fosse verdade, mas com tanto dinheiro, não tinha outra solução? Só mudando de cor mesmo? Não sei, não.
Agora uma coisa eu tenho que admitir: Michael também tinha seu lado bom. Abraçou causas sociais e anti-racistas e sinceramente eu creio que de boa-fé. Portanto, pelo artista hiper talentoso que foi, pela genialidade que tinha, pela graciosidade nos palcos, por toda a violência que sofreu, pelas coisas boas que fez, e pelo que disse sua filha, no dia da cerimônia do enterro do pai, eu perdôo e dou adeus a Michael Jackson. Talvez ele tenha sido realmente uma vítima, talvez não. Agora, isso tudo é tão pouco relevante! Inclusive o meu perdão... Afinal, eu também tenho um anjo e um demônio dentro de mim.
Nathália Carmem
“Ele estendeu o seu belo rosto aos ímpios, para que o cobrissem de escarros. Permitiu-lhes taparem-lhe os olhos, esses olhos que governam o universo. Expôs as costas ao látego. [...] Submeteu a cabeça às pontas dos espinhos, essa cabeça diante da qual devem tremer príncipes e poderosos. Entregou-se, Ele próprio, às afrontas e às injúrias. Enfim, suportou pacientemente a cruz, os pregos, a lança, o fel, o vinagre, permanecendo sempre cheio de doçura e de serenidade. Não abriu a boca, como cordeiro levado ao matadouro, como ovelha emudecida nas mãos do tosquiador.” (Is 53, 7).

Eu não tenho palavras suficientes para expressar a admiração que sinto ao ler a citação acima. Tenho menos palavras ainda para expressar a vergonha que sinto por não conseguir ser assim. As vezes, podemos até achar que isso é pedir demais, afinal, quem é que pode ser como Jesus e passar por tantos sofrimentos sem perder a fé, a doçura e o amor ao próximo? Quem é que, mesmo injustiçado e agredido por alguém, ainda assim consegue amar esse alguém? No máximo, dizemos que perdoamos, mas sabemos que, no fundo, guardamos mágoa e rancor e assim vamos vivendo.
É normal não gostarmos de alguém sem motivo (ou com, pois não faz muita diferença), é normal falarmos, julgarmos uns aos outros, é normal vivermos em competitividade. A vida nos faz assim. E é por isso que cada vez mais, temos que nos aproximar de Deus e, ao contrário do que muitos pensam, não é nem um pouco difícil.
Eu, por exemplo, me sinto mais perto Dele quando perdôo, porque Deus é Amor e Perdão. Isso, é claro, quando eu consigo. Mas se você também não consegue perdoar, tente se aproximar de Deus de outra maneira: amando ao próximo. Só assim conseguirá o perdão divino.
Nathália Carmem

O tráfico de drogas escreve a vida e a morte de muitas pessoas. É quase como se os traficantes fossem os produtores, diretores, roteiristas de uma peça; na qual eles decidem prontamente quem vai chegar até o final, quem vai morrer logo no primeiro ato, ou talvez no segundo, tanto faz. Porque, na realidade, é isso o que acontece. E é muito comum ouvirmos lamentações acerca das “vidas inocentes” que o tráfico tirou; é muito comum, e até muito fácil, reclamar das ações – ou da inércia – da polícia; mas eu nunca vi, ou ouvi, alguém se conscientizar da própria culpa. A culpa é sua, minha, nossa. Todos somos culpados.
Somos culpados quando passamos pelo sinal e ignoramos as crianças pedindo esmolas, somos culpados quando agimos com preconceito, somos culpados quando excluímos. Somos culpados quando achamos, de maneira mais hipócrita impossível, que o simples fato de sermos “plateia” não nos faz atores. Até que ponto podemos dizer que somos inocentes? Até que ponto podemos dizer que somos vítimas, se somos, também, algozes? Quando o tráfico mata alguém aparentemente, por engano, ou de maneira indireta, é cruel, é triste, principalmente para a família dessa pessoa, mas isso não quer dizer que ela seja inteiramente inocente.
O desrespeito ao próximo alimenta a intolerância que, por sua vez, destrói a capacidade de discernir o que é “certo” e o que não é. Esse discernimento é essencial para a vida em sociedade de maneira construtiva. Pessoas desrespeitadas tendem a se sentir fora, à margem da sociedade. Essas são as verdadeiras vítimas. Vítimas do sistema fortemente discriminatório e competitivo, que insiste em pisoteá-las. Vítimas da corrupção de políticos covardes e sem vergonha na cara. Essas pessoas são mais que vítimas, são massa de manobra, são marionetes que caem, lamentavelmente, nas mãos do tráfico.
Por isso e, para o nosso próprio bem, já que só conseguimos olhar para o próprio umbigo, é importante que comecemos a mudar nossos hábitos e nossas ações. Além de reclamar de tudo o que há de errado, façamos aquilo que devemos fazer: unir, em vez de separar. Não estou pedindo para que você dê dinheiro no sinal ou leve um mendigo pra dormir na sua casa, embora eu já tenha pensado em fazer isso, acredite. Eu clamo é por tolerância, respeito e inclusão social. Abandonar nossas crianças é a mesma coisa que entregá-las nas mãos de bandidos, a mercê de traficantes ou da violência das ruas.
Quando abrimos mão de educar, em nosso lugar, vem alguém que não hesita em ensinar a atirar. Quando fingimos não ver o excluído, uma hora ele cansa e vai se fazer ser visto, nem que pra isso tenha que estar com uma arma na mão.
E não pense que quando as cortinas se fecharem você ainda estará na platéia. O mundo dá muitas e muitas voltas. E numa delas você pode parar na mira de um revólver. Seja você inocente ou não. O tráfico é forte e impiedoso. O tráfico é trágico.
Nathália Carmem

That smile on your face
The thought that can't erase
From my mind
In this lonely complicated world
You'll never know what you'll find
I don't want to leave when I'm in your arms

I'm So Happy - The Veronicas.

Nathália Carmem
Ontem tive um sonho, ou melhor, um pesadelo que, por sinal, acho que durou a noite inteira. Sei que isso é loucura, mas realmente não parecia um sonho. Não sei se isso já aconteceu com você, mas parecia que eu estava tentando acordar e não conseguia, ou alguém não deixava. Realmente não sei. O que é mais estranho é que me lembro de ter acordado umas duas vezes durante a noite e, depois, quando eu voltava a dormir, o mesmo sonho continuava de onde tinha parado. Eu juro que ontem foi uma das piores noites da minha vida. Impressionante como o meu quarto e a minha cama, que são coisas que adoro, se tornaram lugares assustadores pra mim.
Quem me conhece sabe que eu tenho pânico de escuro, não durmo de luz apagada nunca, de jeito nenhum, nem que me paguem. Mas é claro que o meu pai, que faz o favor de achar que o meu medo é “frescura”, sempre apaga a luz depois que eu já estou dormindo. Pois pra você ver: ontem, eu estava com tanto medo, mas com tanto medo, que nem me mexer eu conseguia, nem pra acender a luz. Eu podia jurar que tinha alguém no quarto.
Deixe-me contar o sonho, afinal.
Estávamos, minha família inteira e eu, em casa. De repente, meu namorado e meu pai (os únicos que ainda não haviam chegado), aparecem completamente ensangüentados, feridos, surrados. Sabe quando a pessoa apanha tanto que mal consegue andar? Pois então. É lógico que ficamos muito assustados, e perguntamos o que havia acontecido. Eles disseram que ladrões haviam invadido o prédio, e que estavam matando todos os moradores, e roubando as casas, enfim, uma tragédia. Eu fiquei com tanta raiva do que fizeram com eles, que peguei uma arma (hahahahaha) e saí numa busca por vingança! (Atitudes assim me fazem ter certeza de que realmente foi um sonho) Logo que saí pela porta, uma mulher apontou uma arma pra mim, dizendo para eu entrar em casa. Eu, muito corajosa, é claro, não entrei. Enfrentei a mulher e tudo o mais... Ela disse que ia atirar em mim e mesmo assim eu saí correndo pela escada... (sou muito hábil e rápida com degraus) Aliás, trocamos tiros, sabe? Igual como fazem nos filmes...
Acontece que o prédio estava completamente tomado, e eu vi que não tinha chance. Adivinhe o que eu fiz: SIMULEI MINHA MORTE. Eu seeeei, esse sonho parece uma piada. Mas eu juro, juro, juro que ele não foi nem um pouco engraçado. Logo depois disso, nem sei se “meu plano genial” deu certo. Não sei como ficou minha família, nem meu pai, nem meu namorado. O que eu sei é que eu (ou o meu espírito, porque eu não sei se morri no sonho ou não) alcancei a mulher que me perseguia, e puxei o cabelo dela. E o que foi mais chocante em tudo, é que o cabelo não era dela. Ela usava uma máscara, por isso eu não a conhecia. Mas quando eu puxei o cabelo, a máscara caiu. E eu a reconheci. Lembro da expressão dela até agora.
É, eu preciso rezar mais antes de dormir.
Nathália Carmem

Basicamente, o que se ouve muito por aí é aquela velha frase “O homem pensa com o corpo e a mulher, com o coração.” É claro que há muita verdade nisso, o homem, de maneira geral, tende a ser mais frio, calculista; geralmente não suporta a idéia de ter que se prender a alguém ou a um relacionamento que dure mais de uma noite, tenta não se envolver emocionalmente e, quando se envolve, a idéia de demonstrar amor ou afeto em público nem passa pela cabeça. Os homens têm pavor de sentimentalismo, sensibilidade, fraqueza.
Parece que todo homem cresce com aquele pensamento de que têm que ser fortão e durão e que nada, nem ninguém, o abala. Pobres coitados! Um dia eles descobrem que são seres humanos e que também são vulneráveis... Nós, mulheres, somos pura emoção. Passamos a vida inteira esperando o príncipe encantado, o homem perfeito. Reclamamos muito, é verdade. Mas é que uma noite apenas é pouco para nós, o que nós queremos mesmo é um amor pra vida toda, um homem pra casar. Não dá pra se satisfazer com qualquer coisa, né? Além do mais, reclamar é coisa de mulher mesmo, temos comprovadamente um tendência maior que a dos homens para as coisas complexas (será que não é porque somos mais complexas?). A mulher é, geralmente, mais sentimental, e não tem vergonha disso.
Entretanto, a diferença gritante entre homens e mulheres não pode ser resumida com a frase citada no primeiro parágrafo. Há muitos outros aspectos a serem abordados que vão além das diferenças emocionais. Quanto à intelectualidade, por exemplo, muitos falam que as mulheres se expressam melhor, ou seja, têm mais habilidade com as palavras, enquanto que os homens são melhores no raciocínio matemático. Bem, se atentarmos para as estatísticas, veremos que é exatamente isso que acontece. Há uma diferença sutil entre essas médias, mas é um fato.
Quando me perguntam quem eu acho mais inteligente, na hora eu respondo: “A mulher, é claro.”. Mas é lógico que eu não sei, falo isso porque sou mulher (e, se a modéstia me permite, me considero muito inteligente), mas isso não vem ao caso. Existem muitos homens burros, e muitas mulheres burras também. Assim como existem muitos homens que lidam muito bem com as palavras, e muitas mulheres que dominam a matemática perfeitamente. Não há um sexo superior ao outro. Se admitirmos o contrário, teríamos que admitir que há pessoas superiores às outras, e isso seria discriminação.
Machismo e feminismo são coisas que devem ser abolidas em todos nós. Veja bem, eu não me incluí apenas para fazer número. Às vezes, eu também me pego “puxando a sardinha pro meu lado”. Mas isso não é bacana. Cada um de nós deve reconhecer o valor do outro.
Os homens recebem, em média, 75% a mais do que as mulheres, desempenhando as mesmíssimas funções, mas as mulheres estão cada vez mais consolidadas no mercado de trabalho. Apesar disso, ainda é grande o número de homens que, por causa de idéias preconceituosas, se recusam a serem liderados por mulheres.
As mulheres têm um dia internacional que, à propósito, é dia 8 de março. Parabéns a todas nós! Os homens não têm isso. Graças a Deus, vivemos em um país que, cada vez mais, cuida de suas mulheres. Tudo bem que a violência doméstica ainda é um grande problema aqui, mas pelo menos não somos trocadas por camelos nem temos que casar com árvores. Já pensou? Ok, cultura é cultura. Não vou aprofundar isso aqui. Mas que é, no mínimo, assustador, é!
Enfim, homens e mulheres foram feitos para se completar. Essa competitividade desnecessária só gera mais preconceito e discriminação. Cada um tem seus pontos fortes e pontos fracos, mas um não vive sem o outro. Pra que brigar quando podemos simplesmente viver harmonicamente e em paz? Essa guerra toda não faz sentido algum. Apesar das diferenças, somos todos iguais.


Nathália Carmem
Não posso dizer exatamente desde quando a filosofia me fascina, mas posso dizer e, com muita certeza, de que é uma das minhas áreas do conhecimento favoritas. É claro que isso depende muito de quem você costuma ler, por que tem alguns filósofos que, mesmo para mim, são uma chatice. Enfim, isso acontece o tempo todo. Às vezes, você adora literatura, mas não consegue ler nem duas páginas de livros considerados de valor altamente significativos. O fato é que a filosofia é muito mais que uma obra ou outra, um devaneio ou outro. A filosofia é conquistadora, quando você entende e reconhece o valor que ela possui.
Muitas pessoas, conscientemente ou não, diante de todas as modernidades e praticidades dos tempos atuais, tendem a duvidar que a Filosofia valha mais que controvérsias sobre temas impossíveis e inalcançáveis e pensamentos quase que incompreensíveis. Esta visão, totalmente desprestigiada, resulta da falsa idéia de que a Filosofia serve para alcançar uma verdade absoluta, ou alguma resposta absolutamente verdadeira. Como se alguém, nesse mundo, fosse capaz de tal proeza.
O valor da filosofia está na mente de quem a defere. Aqueles que lhe são indiferentes, só poderão ver esse valor na vida daqueles que a reconhecem. Os indiferentes acham o estudo da filosofia “uma perda de tempo”. São pessoas que se enganam todos os dias, achando que a vida corriqueira e prática e os bens materiais são muito mais importantes que o bem da mente. São pessoas que acham que pensam por si mesmas, mas na verdade só pensam aquilo que os outros pensam ou querem que pensem. São pessoas que alimentam o corpo, mas não a alma, nem a cabeça. “Adotar uma filosofia de vida”, como muitos dizem por aí, não é apenas pensar de um jeito e achar que só o seu jeito de pensar é o certo. Viver filosoficamente é pensar na vida como algo que está além da nossa compreensão, mas que nem por isso devemos nos resignar com as respostas que nos são dadas, e aceitá-las simplesmente. Viver filosoficamente é entender que o mundo muda a todo segundo, e que você tem que saber lidar com isso. Viver é pensar, filosofar. Filosofia é vida. É sensibilidade. E viver não pode ser perda de tempo para ninguém.
Eu não sou filósofa, e sinceramente não pretendo ser, mas me orgulho em dizer que faço filosofia todos os dias. Faço porque aspiro conhecimento. Tenho convicções, preconceitos e crenças como todos nós, seres humanos, temos. Mas isso não me impede de maneira alguma de mudar de opinião, ou de reconhecer a minha dependência de respostas, a minha necessidade de entender até o que é impossível de se entender. Sempre que preciso, é bom fazer um auto-exame dos nossos valores, modos de pensar e etc. São essas coisas que fazem você ser quem realmente é, e não o que você tem ou que você veste ou qualquer coisa assim, mais superficial. E se você não pensa nada, você não é nada, acaba sendo só mais um no meio da multidão. E se você pensa sempre a mesma coisa, acaba ficando no passado, pois o futuro não é dos radicais.
As pessoas reclamam que a filosofia é complicada, vaga e inútil. Já ouvi até dizerem que “filosofia é coisa pra rico”. Como se os pobres fossem seres não-pensantes. O que quase ninguém entende é que a filosofia é vaga porque, se assim não for, não será filosofia. Se você pensar em uma coisa e puder explicá-la e comprová-la, bem, essa coisa já não faz parte da filosofia. Nada que pode ser explicado faz parte da filosofia. Porque a filosofia é simplesmente o não saber, é a busca por uma razão que pode até ser entendida, mas nunca comprovada. A filosofia é a dúvida inerente a qualquer pessoa.
Eu entendo que a filosofia valha para manter vivos os pontos de interrogação que trazemos conosco desde quando começamos a pensar. Esse poder de especulação vem sendo deixado de lado desde sempre. Ao longo da história, sempre teve aquele indivíduo que se deixa contaminar e se importar apenas com aquelas questões que podem ser comprovadas. Parece que esse tipo de gente sabe de tudo, não é? E o pior é que essas pessoas estão, cada vez mais, em número maior na sociedade. Poucos são os que se mostram interessados em especular, em buscar, divagar, estudar as possíveis respostas. Ou até, as impossíveis. É uma pena. Se todo mundo ficar, de repente, tão dogmático, ou que será de nós, amantes da filosofia, adoradores da dúvida?
Nathália Carmem
Quem, às vezes, não gostaria de fugir pra uma cidadezinha invisível no mapa? Quem, às vezes, não se sente órfão de mãe? Ou de pai? Quem não tem uma irmã-cópia? E quem não tem uma irmã copiada? Às vezes, somos tão egoístas que não percebemos a importância daquilo que é simples, mas fundamental a todos nós: Amor. Quem é que não tem algum tipo de revolta com a vida? Quem é que não fica pasmo quando, acostumado a saber de tudo, se vê diante do inexplicável? Como explicar que aquele lugar tão acolhedor para você, sirva como uma prisão pra alguém? Quem não tem um sonho que todos insistem em dizer que é impossível? Quem não tem Amor no coração? Ou uma dor de coração? Seja ela pelo motivo que for... Quem é que não teve, pelo menos uma vez, um anjo em sua vida? Quem é que, mesmo diante de todas as dificuldades, não se vê obrigado a seguir em frente? Se você se recusa a esquecer e seguir adiante, problema seu. Mas não me atire nenhuma pedra.
Nathália Carmem
Yngrid acabava de sair da aula de dança, estava ofegante, exausta. Chegara à escolinha de ballet às 08:00h e já passava das 14:00h. Acontece que era final de ano, e todo final de ano era igual: os ensaios eram mais demorados, intensos e puxados, por causa da tradicional apresentação de Natal que acontecia sempre, impreterivelmente, na frente da única igreja da pequeníssima cidade de Garrafão.
Sim, Garrafão está dentro daquele grupo de cidades quase invisíveis no mapa, como Tangamandápio, por exemplo. Lá, só há uma igreja, uma praça, um hospital, um colégio, uma sorveteria, um shopping, uma escola de dança... Ah, vem dizer que você não conhece um lugarzinho assim, onde tem de tudo, mas só uma coisa de cada tipo? E mesmo essa igreja, esse hospital, essa escola, são todos pequenos, porque a população é numerosamente pequena. Ou seja, de grande, Garrafão só tem o nome, e mesmo os mais antigos desconhecem a origem deste nome tão controverso.
Yngrid chegara a Garrafão aos 3 anos de idade. Seu pai, que era um cardiologista de prestígio, resolvera morar ali depois de ter perdido a esposa para uma doença rara, numa tentativa de se afastar de tudo o que lhe lembrasse e causasse nele a dor de sua perda. Era difícil, impossível até, para um cardiologista renomado como ele, uma pessoa cética, descrente de qualquer coisa que não fosse cientificamente explicável, aceitar o inexplicável. A mãe de Yngrid ora sofria dores no coração, ora desmaios freqüentes, ora febres altíssimas, e até queda de cabelo. Era um mistério. Até que um dia, quando Yngrid fez dois anos, tão misteriosamente quanto como apareceu, a doença foi-se embora, mas levou a mulher com ela. E foi assim e por isso que ele decidiu sair da cidade onde viviam, afastar-se até dos parentes e amigos mais próximos, morar numa cidadezinha escondida, fugir daquela vida, daqueles dias de luto, cruéis e impiedosos.

Fernanda acabava de sair da aula de francês. Ainda meio na dúvida acerca “des conjugàisons”, mas certa e satisfeita com sua boa pronúncia, conquistada sem muito sacrifício. Orgulhava-se de como era sabida, esperta. Poderia aprender o idioma que quisesse, sempre fora boa em línguas, e em gramática. Na próxima semana, chegaria a tão esperada resposta da universidade francesa, na qual ela pedira admissão para continuar seus estudos. A família de Fernanda, ao contrário da de Yngrid, não sofrera nenhuma perda recente, e morava em Garrafão porque não tinha outra opção. O pai de Fernanda não tinha nem o Ensino Médio completo e a pouca renda que tinham vinha do emprego de revendedora de cosméticos da mãe de Fernanda. A jovem, portanto, não apenas orgulhava-se do alto conhecimento cultural, como enchia seus pais de orgulho e admiração, e constantemente fazia a promessa de levá-los para Paris. Garrafão era pequena demais para os sonhos de Fernanda. Ela já estava até pensando em como faria se fosse admitida: leria a carta na frente da igreja, no dia da apresentação de Natal e espalharia a sua alegria para todos, numa data que era tão fraternalmente celebrada em Garrafão. Seria o seu “Adeus”.

É claro que as duas garotas se conheciam, mas não eram especialmente amigas, pois não freqüentavam as mesmas aulas, nem os mesmos lugares e nem tinham muitos amigos em comum. Fernanda sabia que Yngrid era a menina mais rica da cidade, e que fazia aulas de dança, piano, artes plásticas, mas era só. Ninguém sabia nada da família de Yngrid, nem do por quê de mudarem-se para Garrafão, até o dia em que as coisas começaram a mudar.

Fernanda foi deixar a irmã mais nova, Marina, no colégio. Marina, deixe-me falar pra você, era uma menininha muito esperta e adorava imitar a irmã. Mas Marina não era igual à Fernanda, logicamente. Na verdade, elas quase não tinham semelhança alguma a não ser alguns poucos traços, que passavam quase despercebidos diante de todas as diferenças. Diferenças que, aliás, não se limitavam à aparência tão-somente, mas também à personalidade. Enquanto Fernanda era madura, responsánvel, doce e sonhadora, Marina era mimada, inconseqüente, faceira e só obedecia à irmã. Todo dia de manhã era a maior guerra pra que Marina fosse ao colégio, e tinha dias em que só Fernanda a fazia ir. Este era um desses dias. E foi justamente por causa de Marina, que se atrasou tanto, que Fernanda pôde ver Yngrid ir ao chão sozinha, meio que desmaiada, apenas há alguns passos de onde estava.

Fernanda saiu correndo, pensando em chamar uma ambulância, mas quando ia se colocar ao lado da menina, viu que ela já estava se levantando, ainda meio zonza, mas aparentemente bem.
- Você ta melhor? – perguntou Fernanda.
- To. Acho que to. Obrigada.
- Tem certeza? Fiquei tão assustada. Você não quer sentar? Talvez você esteja cansada.
- É, pode ser. Qual seu nome?
- Fernanda. Meu Deus, por um instante esqueci! Você é a Yngrid, a filha do medico, ele tem que dar uma olhada em você, sei lá, as pessoas não desmaiam assim, de cansaço. Pelo menos, não normalmente. E você ainda ta tão abatida, acho que a gente deve...
- Não precisa. Eu estou bem, de verdade. Meu pai é um homem muito ocupado, não gosta que eu o perturbe com bobagens. Não posso nem falar de doença nenhuma em casa, desde que minha mãe morreu. Doença, pra ele, sé existe no hospital. Um desmaiozinho desses não é motivo tanto estardalhaço. É que final de ano a quantidade de ensaios triplicam, e eu não comi nada hoje de manhã...
- Sim, mas você ainda nem chegou ao balé! Como pode estar tão cansada?
- É um cansaço acumulado. Venho sentindo muito isso ultimamente.
- Humm. Pode ser que não seja nada mesmo. Mas, mesmo assim, você tem que comer! E descansar! Lembro que há uns dois anos atrás, você era mais, não sei bem, corada, eu acho. Agora você me parece meio pálida.
- Fernanda, eu acabei de passar mal. É claro que to pálida. Você só está impressionada, só isso.
- E, tem razão.

E as duas conversaram ali um bom tempo, mas depois tiveram que honrar seus compromissos, de maneira que acabaram não se encontrando mais ao longo do dia. Yngrid gostou de fazer uma nova amiga e Fernanda, apesar do susto, simpatizou muito com Yngrid também. É claro que esta era meio estranha, tinha dias em que ficava o tempo todo na rua, e tinha dias em que ninguém a via em canto algum. Nem para o balé ela ia com freqüência, estava cada vez mais magra, fraca e pálida.

O pai de Yngrid começava a se preocupar e sofria ao reconhecer na filha, os mesmos sintomas que culminaram na estranha doença de sua mulher. Parecia que ele teria que passar por tudo outra vez. Será que há justiça nesse mundo? E então, poucos dias antes da Apresentação, descobriu-se que Yngrid sofria de uma doença rara de coração, uma doença irreversível, desconhecida. Algo parecido com um sopro no coração, mas não exatamente isso. Era como se, uma parte do coração da garota fosse feita de dor, uma dor forte e impiedosa, absolutamente desconhecida da ciência, inexplicável para todos.

A essa altura, Fernanda, que havia sido aceita na universidade francesa, tentava de todas as maneiras possíveis ajudar a amiga. Em vão. O destino de Yngrid não estava nas mãos de ninguém, e já estava mais que sacramentado: ela se encontraria com a mãe em breve. Fernanda, porém, não tinha como saber disso, e escreveu para a amiga uma espécie de carta: rápida, curta, direta, que dizia o seguinte:

“Quando tudo parecer ruim, lembre-se de que as coisas poderiam estar piores, e aceite as coisas como estão. Não desafie Deus, nem o Destino. Você ainda pode viver muito, e vai viver muito, eu sei que vai. Aqui, ou na França, estarei sempre torcendo por você, para que você supere todas essas dificuldades. Mesmo que hoje você não esteja tão feliz, lembre-se do quanto você já foi feliz, e imagine o quanto será, se não desistir de tudo agora. É só isso que eu te peço: não desista de você. Tenha força pra viver, tenha força pra lutar por você. A sua vida é o bem mais precioso e exclusivo que você tem. Não a entregue de bandeja pra uma doença que só quer acabar com ela. Um abraço, Fernanda”


O que aconteceu foi que Yngrid nem chegou a dançar nem a ler as palavras da amiga. Quando o pai foi entregar para a filha, deparou-se com a inevitável fatalidade. Yngrid havia morrido. Morreu por causa de alguma espécie de sopro no coração. O desespero, o remorso e a culpa tomaram conta do médico. Sua dor era, agora mais do que nunca, arrebatadora. Era tão grande que não cabia dentro dele mesmo. Olhou para o papel e, num gesto impensado, amassou a carta. Sentiu-se bem fazendo aquilo, assim como sentiu-se bem quando se jogou no chão e chorou copiosamente. Ele tinha que pensar no enterro, em tirar a filha dali, mas não conseguia. Ele não se sentia capaz de se mover, se sentia paralisado, amassado como a folha de papel. Não demorou muito a pensar em terminar com tudo da maneira mais fácil: cortaria os pulsos, se envenenaria ou qualquer outra coisa assim. Na verdade, o que ele queria era punir-se, de maneira bem dolorosa. Quem sabe assim ele não teria o castigo que merecia, por não saber diagnosticar esposa e filha? Por deixar que as duas morressem...

De repente, quis abrir a carta. Num pensamento um tanto insano, imaginou que era aquele pedaço de papel, e resolveu abrir a carta, como se, lendo o que estava escrito no papel, pudesse ler dentro de si mesmo. Leu inúmeras vezes o pequeno parágrafo de Fernanda, até criar coragem de se levantar, retirar a filha dali e decidir que viveria não apenas por sua esposa e por Yngrid, como também por Fernanda e, principalmente, para contrariar um pouco a doença maldita que devastou os corações das duas pessoas que ele mais amava.

Fernanda, assim que soube, foi ao velório. Mas não se demorou ali, era triste demais. Injusto demais. Deu um abraço no médico, que a agradeceu pelas palavras de apoio que seriam para a filha, mas acabaram ajudando a ele. Desejou a ela uma boa vida no exterior, e que ela jamais esquecesse de Yngrid. Fernanda garantiu as duas coisas e pediu apenas uma: que ele fosse feliz sem culpa. “O Senhor não é culpado. Não havia nada que alguém pudesse fazer. Pensemos em Yngrid como um anjo. E alegremo-nos por este anjo pousar em nossas vidas.”
Nathália Carmem

Parece que todo ser humano foi feito exatamente do mesmo jeito, com a mesma mania: a de achar que nunca está bom o suficiente, que nunca se é bom o suficiente. E não somos mesmo. Mas aí eu pergunto: o suficiente para quem? Sim, por que estamos constantemente nos definindo, uns para os outros; adoramos dizer: “eu sou assim, assado, etc.”. Amamos os rótulos. Mas você já reparou o quanto é difícil ser fiel a você mesmo? Afinal, quem é você?
E a resposta pra essa pergunta é a mais traidora de todas as respostas. Simplesmente, meu amigo, porque você não sabe. Eu posso dizer que sou baixa, branca, cabelos castanhos, magra, estudante, professora, amiga de muitos, um saco pra alguns, possivelmente, boa filha (eu acho!), ótima irmã (tenho certeza!), excelente namorada (haha), e por aí vai, mas uma hora vem o golpe. Porque você não é só você, propriamente dito. Você é aquilo que você pensa, aquilo que você quer, aquilo que você tem, aquilo que você sente... você é aquele sonho, aquele desejo, aquela saudade, aquele abraço, aquele riso, aquele choro, uma legião de “aqueles e aquilos”. E isso tudo muda, você conquista algumas coisas, abre mão de outras, e vai sendo e deixando de ser, ao mesmo tempo. Às vezes eu sinto como se me desenhasse e ao mesmo tempo eu me apagasse. Não gosto de renunciar a nada. Ainda não aprendi a desistir de nenhum sonho meu, a desistir de nada daquilo que me faz ser quem sou. Mas eu sei que faço isso, quem dera eu pudesse ter tudo e não me trair jamais! Afinal, o que é “tudo”? Será que o “tudo” é suficiente pra nos satisfazer? Como eu só posso falar por mim, tenho quase certeza que mesmo no dia em que eu tiver tudo o que eu sempre quis, ainda assim não será o suficiente. Pra quem? Pra mim mesma. A verdade é que o nada é pouco, e o tudo não basta.
Nathália Carmem
Estive pensando a respeito da reforma ortográfica na língua portuguesa que começou a vigorar no dia 1º deste mês, reforma à qual ainda não consegui me adaptar. Tudo bem que não há mais nada a ser feito, e eu vou ter que reaprender a escrever (o que me deixa muito, mas muito inconformada), porque escrever errado por aí é vergonhoso; e tudo bem que não é uma mudança total, tampouco de todo má, haverá vantagens com essa unificação. Ou, pelo menos, a intenção é essa. Mas acredito que as desvantagens e os aborrecimentos serão maiores, e vou dizer por que.
Em primeiro lugar, eu tenho um verdadeiro amor pela língua portuguesa, e me gabo de saber escrever bem (gramaticalmente falando), principalmente num país como o nosso, onde a leitura e a escrita são hábitos de poucos. Saber onde colocar trema, acentos, hífens sempre foi uma grande qualidade minha, graças a Deus. E agora, como já disse no parágrafo anterior, vou ter que aprender tudo isso de novo, ou grande parte, enfim, um aborrecimento desnecessário.
Uma outra conseqüência, ou melhor, consequencia é termos que nos acostumar com a quantidade de “us” que ficarão sem trema. Chega a ser ridículo: o “quen” de conseQUENcia ser escrito do mesmo jeito que o “quen” de QUENte. Ora, se há dois pontinhos em cima do “u”, com certeza eles não estão ali por puro enfeite, eles TÊM uma função. Ou, por acaso, você acha que não há diferença na pronúncia de ”consequencia” para “quente”? Ai, língua portuguesa... onde é que você vai parar?
Palavras como ideia, assembleia, heroica, perdem o acento agudo, o que, é lógico, marcava a pronúncia dessas palavras. É lógico que ninguém vai falar diferente, mas que fica uma bagunça só, isso fica. Eu não entendo como isso pode simplificar a nossa língua. Mudar, unificar, eu até concordo. Mas facilitar? Não, a não ser que seja para aquele grupo de pessoas que já não sabia acentuar, agora então vai ser uma maravilha. Aliás, tem uma outra coisa que muita gente não sabia (sim, porque agora não adianta mais saber): o acento que diferenciava o “para” do verbo “parar”, que era o acento agundo na penúltima sílaba, do “para” preposição. Novamente teremos duas palavras escritas de maneira idêntica, com significados totalmente diferentes.
Mas, como a questão é irrecorrível, não adianta reclamar. O melhor que se tem a fazer é pensar nas vantagens (se é que elas virão), e são elas: uma maior troca literária entre os países lusófonos, que possibilitará um intercâmbio cultural também maior, além da unificação propriamente dita na escrita.
Não sei se essas mudanças incorporadas à ortografia, que não são poucas, eu citei só as mais, digamos, esquisitas, serão benéficas ao nosso idioma, porém, é assim que vai ser daqui pra frente. O nosso português, coitado, está sofrendo. E eu também. Preciso escrever as novas regras em algum lugar e memorizá-las o quanto antes. Escrever errado por aí não dá né?
Nathália Carmem
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
muda-se o ser, muda-se a confiança;
todo o mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades...
Continuamente vemos novidades,
diferentes em tudo da esperança;
do mal ficam as mágoas na lembrança,
e do bem (se algum houve), as saudades...
O tempo cobre o chão de verde manto,
que já coberto foi de neve fria,
e, enfim, converte em choro o doce canto...
E, afora este mudar-se cada dia,
outra mudança faz de mor espanto,
que não se muda já como soía...
(Luís Vaz de Camões)
Nathália Carmem


O mundo inteiro parece ter se encantado com este homem. O presidente eleito dos Estados Unidos parece ter conquistado não apenas a maioria do povo americano como a esperança de muitos de nós, adormecida e abalada já há algum tempo por George W. Bush. Há muito um homem não era tão falado como ele; e desde os atentados de 11 de setembro que não falávamos tanto nos Estados Unidos.
É claro que um país tão poderoso é sempre muito focado, seja no campo político ou no social, e está sempre no centro dos acontecimentos mais importantes do mundo, mas é diferente. Hoje, assim como em setembro de 2001, é como se o planeta estivesse se comovendo com os EUA, dando seu apoio. Hoje, fala-se dos Estados Unidos com uma dose de aprovação, como se o mundo estivesse dando “sim” a Barack Obama.
Com a arrebatadora campanha e, um pouco depois, com a vitória de Obama, o primeiro presidente negro dos Estados Unidos, o planeta se mobiliza a favor deste homem que desde já parece estar mudando as coisas e que promete lutar em prol da restauração da imagem americana perante o mundo. É como se os americanos estivessem pedindo desculpas, e como se essas desculpas estivessem sendo aceitas. As várias comemorações (com fogos de artifícios e tudo mais) feitas em vários países, inclusive africanos, no dia da vitória de Obama, são prova disso.
Eu nunca entendi bem o por quê de tanto repúdio aos americanos e ao seu país. As pessoas confundem governantes e suas megalomanias com os povos e os países por eles representados. Como se todo americano fosse igual a George W. Bush. E, afinal de contas, se assim fosse, nós brasileiros, nos veríamos em péssimas condições. Nunca fomos exatamente um exemplo de povo que sabe escolher bem seus governantes. O que eu quero dizer é que, se os Estados Unidos invadiram o Iraque, torturaram prisioneiros de guerra, mataram Saddam Hussein, jogaram bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, entre outras coisas, a culpa não é do povo, e sim de homens extremamente gananciosos, inescrupulosos e poderosos; e que Bush é só mais um desses homens. Se Obama também é assim, só o tempo dirá. Mas, se assim for, a culpa é dele, e não dos americanos. Já pensou se pudéssemos ser culpados pelos atos daqueles que elegemos? Melhor nem pensar!
É isso que me deixa com medo: quando há muita expectativa, a frustração é quase que certa. O mundo parece se apaixonar por Obama, e esquecer que ele é humano, e pode fazer tudo diferente, mas também pode fazer tudo igual. Não que eu ache que ele seja isso ou aquilo, mas se ele puder corresponder a todas as nossas expectativas, será um milagre. Um milagre que nem Jesus Cristo conseguiu, diga-se de passagem.
Nathália Carmem

Chorar é um pouco triste, mas às vezes é inevitável. Ontem foi uma dessas vezes, um daqueles dias em que parece que, por mais que se tente evitar, o choro acaba saindo. E não adiantou tentar disfarçar, tentar me esconder pra que ninguém percebesse, porque parecia que era exatamente o que todos queriam ver, mesmo que inconscientemente.
Não sei se faço bem em deixar que me vejam chorar, mas afinal, que escolha tenho eu? Se, de repente, você acorda feliz da vida, cheia de planos para o seu dia, animada mesmo e, do nada, alguém resolve te frustrar, te magoar, te chatear e até te irritar, uma hora, por mais durona que você seja, você desaba. E acredite, eu NÃO SEI SER DURONA (mais uma pra minha lista). Quando duas das pessoas que você mais gosta no mundo acabam te deixando triste, as lágrimas são quase que imbatíveis. “Não é chique chorar em público”, é o que dizem, mas eu pergunto: “Nessas horas, alguém se lembra disso?”
Ainda bem que não foi preciso uma crise de choro (o que me deixaria com olheiras profundas e um nariz gigantesco e rosado), tudo se resolveu relativamente rápido, e surpreendentemente bem, diga-se de passagem. Mas eu preferiria ter chorado rios de raiva e tudo o mais, do que me sentir uma completa idiota, que foi como me senti ontem. Triste, né? Credo, fazia séculos que eu não me sentia assim.
O que será pior? Chorar por não ser como você gostaria de ser? Ou chorar por não ser aquela que gostariam que você fosse? As pessoas sempre pedem pra eu entender, pra eu me acalmar, acreditar, confiar... Mas e se eu não for capaz? E se eu, simplesmente, não quiser? Representar, segurar o choro é tão angustiante quanto o que te faz chorar.
Hoje, eu estou feliz, completamente feliz. E o que eu deixo pra você que está lendo isso é mais do que queixas, dramas e reclamações. É mais que um desabafo: é a certeza de que chorar é bom, e realmente acalma. Se você ficar com vontade de chorar, seja pelo motivo que for, não segure, chore. Se você puder se controlar, é claro, controle-se. Mas se você for como eu, desde sempre conhecida como uma “banana chorona”, jogue tudo pro alto e chore mesmo. Não esconda suas aflições. Quem disse que quem chora é fraco? Fraqueza é não saber chorar, ou não ter porque chorar. É como alguém que não vê graça em nada e consequentemente não tem motivos pra sorrir, e quando os tem, não sorri, porque não sabe.
Bobagem esse negócio de chorar com classe, chorar escondido. Bom mesmo é chorar no colo de alguém e receber a mão que te coloca pra cima. Seja de uma amiga, do namorado ou a de Deus. E quando levantar, lembre-se, a vida existe para que a vivamos com dignidade. E chorar, assim como sorrir, faz parte da vida. Sorria sempre e chore quando sentir vontade, mas não deixe nunca de tentar ser feliz.
Nathália Carmem

Quando eu vi as chamadas da Minissérie “Maysa – Quando Fala o Coração”, fiquei encucada. Ou essa mulher era só mais um produto da mídia, só mais uma personagem atirada em cima de nós sem a menor utilidade, com a desculpa de uma homenagem a uma cantora de quinta (sim, eu pensei que essa tal de Maysa não tinha assim tanto talento, tanta história), ou eu era uma completa alienada que não tinha a menor idéia do tamanho da importância dessa mulher. Só não fiquei mais aborrecida comigo pela minha ignorância porque afinal de contas eu só tenho 19 anos, não conheci pessoalmente o trabalho de Maysa.
Você deve estar pensando que eu sou muito facilmente seduzida, conquistada. Pois eu até posso ser, mas não quando o torço o nariz logo no início, não quando eu faço o que fiz com a minissérie, rejeitei antes mesmo de ver. E o que aconteceu foi que, ontem, se não me engano no segundo capítulo, entrei na sala e minha irmã estava assistindo, e algo me chamou a atenção. A Maysa, aquela que eu achava que era uma cantora de quinta, cantava muito bem, e compunha músicas lindas. Mais do que isso, a Maysa que eu via na televisão era uma mulher extremamente impressionante. Tinha um sonho, e o colocou acima de tudo, até mesmo do próprio filho. Não vim aqui propagandear nada, até porque nem precisa, ninguém agüenta mais os comerciais por causa disso. Mas achei que fui injusta e até preconceituosa, e agora é como se eu estivesse pedindo desculpas. Também não estou aplaudindo Maysa por tudo o que ela fez, porque particularmente não a aprovo em muitas coisas, e também não sou tão ingênua a ponto de acreditar piamente em tudo o que se passa na série, mas virei fã dessa mulher tão transgressora, tão intensa, tão humana. Além, é claro de sua voz e seu talento ímpares, isso sem falar da interpretação. To LOUCA pra ver a cena em que ela canta “Ne me quitte pas”.
A história não poderia ser contada de melhor maneira que não a não-linear. Maysa não era certinha, normal, ordenada, e sim passional, impetuosa. E sabe de uma coisa? Maysa era diferente, muito diferente, porque era ela mesma numa época em que todos tinham que ser iguais, querer as mesmas coisas e sonhar do mesmo jeito. Pequeno, contido, acomodado.
“Se todos fossem iguais a você
Que maravilha viver
Uma canção pelo ar
Uma mulher a cantar
Uma cidade a cantar
A sorrir, a cantar, a pedir
A beleza de amar
Como o sol
Como a flor, como a luz
Amar sem mentir, nem sofrer
Existiria a verdade
Verdade que ninguém vê
Se todos fossem no mundo
Iguais a você”
(Se todos fossem Iguais a Você)
Nathália Carmem
É fato que só invejamos aquilo que é belo, aquilo que, em nossa opinião, é o melhor. Eu invejo talentos. Não que eu não seja especialmente talentosa, sinceramente eu acho que todos temos algo que nos diferencia uns dos outros; mas eu não vou revelar aqui minhas maiores qualidades, e sim as minhas limitações. Acreditem, se estou escrevendo isso é por que preciso me livrar deste triste pensamento que não quer me largar: “Como eu sou invejosa!”
Quanta coisa eu já aprendi! Quanta coisa eu já conheço! Deveria me dar por satisfeita simplesmente pelas coisas que eu sei. Mas as coisas que eu não sei (ou não sei fazer bem), em vez de serem metas, objetivos a ser conquistados, acabam se tornando desculpas minhas para invejar, uma vez que o pecado da preguiça (de aprender) é muito mais forte em mim, e acaba vencendo.

Coisas que eu não sei:

- Gostar de chuchu, quiabo e maxixe.
- Diferenciar o verde-claro do azul-claro.
- Falar italiano.
- Estar sempre linda, maquiada e gostosa.
- Organizar meus horários de estudo.
- Ficar solteira.
- Não me irritar com argentinos no futebol.
- Não odiar o Paysandu.
- Esperar.
- Cantar
- Ser mais desinibida.
- Ser mais misteriosa.
- Ser mais fechada.
- Correr ou nadar rápido.
- Inventar apelidos.
- Ser engraçada.
- Controlar meus cartões de crédito.
- Desistir das minhas amizades.
- Não confiar nos outros.
- Perder
- Controlar ou evitar pensamentos desprezíveis.
- Ser meiga
- Proteger sempre todos que eu amo
- Trabalhos segundo as regras da ABNT
- Costurar
- Fazer pudim.
- Ter saco pra aturar raps.
- Não sentir inveja de quem sabe fazer tudo isso e não pensa em besteiras desse tipo.

Quedrogadevida!
Nathália Carmem

Se amar é simplesmente estar por perto
Se amar é sofrer quando não se pode estar junto
Se amar é procurar ter sempre mais carinho para dar
Se amar é nunca sentir frio
É se descontrolar
É ouvir canções em qualquer frase
É a cumplicidade, a passividade
É sintonizar sentimentos
Então eu te amo
Vou te amar pra sempre
Até em enquanto eu achar que é pra sempre
Enquanto meus carinhos bastarem
E, ao mesmo, tempo, sejam inúteis
Para nos conter, nos buscar
Sempre, sempre
Não haverá distâncias entre nós
Sonharemos juntos
O mesmo sonho
Por mais absurdo que ele seja
O teu encanto é a tua arma
Contra qualquer hesitação minha
Como se eu conseguisse hesitar
Diante de tanta doçura
Não haverá carências entre nós
Sentiremos tudo ao mesmo tempo
Com a mesma intensidade
Num ritmo perfeito, suave, apaixonado
Eu falo do Amor em sua mais linda forma
Do Amor Supremo, do Amor Eterno
Pode ser daqui a alguns dias,
Ou anos
Pra mim, começou desde agora.
Se a gente quiser, a gente nasce de novo
A gente se refaz
Só pra sermos um do outro
Cada vez mais.
Nathália Carmem
Vivo com a cabeça no “mundo da lua”, muitos dizem. Se é verdade absoluta, nem eu mesma sei. O fato é que, o que pode ser bastante aborrecido para alguns, para mim é delicioso. Não há nada mais bonito do que olhar distraidamente para qualquer lugar, pensar em várias coisas ao mesmo tempo e até pensar em nada. Hoje a tarde, enquanto todos estavam muito ocupados aqui em casa, fui até a janela do meu quarto e fiquei ali por um bom tempo. Olhei o céu, as casas, as pessoas nas ruas, as pessoas nos carros, os cachorros de rua, os gatos nos muros de suas casas, o sol, o céu de novo, os pássaros... E fiquei olhando para estes últimos. Olhando e pensando em como são, de certa forma, mágicos. Na hora eu pensei em fazer uma poesia, ou até em escrever um conto, depois desisti. Por mais que eu pensasse, palavras não foram bastantes para descrever o tamanho da minha admiração, carinho e, sim... Inveja desses animais tão abençoados. Subitamente, e por mais insano que possa parecer, me deu uma vontade enorme de voar.
E você pode até pensar que é besteira minha ou ingratidão com Deus, já que ele me permitiu pensar, raciocinar, falar, em vez de me dar asas, penas, o dom de cantar lindamente e morar em árvores. Mas acredite, naquele instante, eu trocaria a minha vida pela de um pássaro qualquer. Passou pela minha cabeça, também, que cada pássaro deve ter uma função especial, seja ela de simbolizar a paz, como as pombinhas, de simbolizar o verão, como as andorinhas, de divertir as pessoas, como os papagaios falantes, e até de agouro, como muitos acreditam que assim o fazem as corujas, gralhas, corvos e etc.
Quando ia pra Mosqueiro, há algum tempo atrás, e ficava na casa da minha avó, que tem um quintal imenso, eu sempre colocava em cima do muro pedaços de pão, de frutas e até sementes depois do café da manhã e do lanche da tarde. Era uma maravilha observar a grande quantidade de aves que ali apareciam e que pareciam se debruçar e apreciar um banquete. Às vezes até havia algumas rixas. Lembro-me bem que o bem-te-vi era quase sempre o mais encrenqueiro, mas todos eram umas graças. Eu não ousava me aproximar, pois eles fugiam ao menor e qualquer sinal de tentativa minha, mas eu não me importava. Sempre fui fascinada por bichos e preferia mantê-los ali, ao alcance da minha vista e, ao mesmo tempo, longe das minhas mãos, mesmo que eles nunca mais voltassem. Mas eles sempre voltavam! E quando eu vinha embora, que falta isso me fazia! Aqui eu moro em apartamento, e não tenho muro. E não é que, em algumas raríssimas vezes, flagrei passarinhos na cozinha? Mesmo assim, fica muito mais difícil manter esse tipo de contato, o jeito é olhar pela janela mesmo.
Pois bem, se eu fosse um pássaro, faria questão de passar cada dia num lugar, mesmo que isso implicasse numa total desestruturação nos fluxos migratórios naturais da minha espécie. Eu apareceria em todos os biomas possíveis, mesmo que isso surpreendesse os biólogos mais experientes. E então eu vi que, humana e limitada como sou, mesmo assim, talvez eu ainda seja mais abençoada que o mais lindo dos pássaros. Abrir mão da sabedoria a favor do instinto? Não, eu não estaria preparada. Voar deve ser surreal, fascinante, esplêndido. Mas também se pode voar com os pés no chão, talvez sem o mesmo brilho, sem a mesma graça, mas todos podemos abrir asas e voar para onde quisermos.
Nós, homens, somos livres, e mesmo que estejamos trancafiados em alguma cela, ainda assim, podemos voar. Os pobres coitados dos pássaros só têm as asas para alçar vôo, e isso quando algum famigerado não os coloca dentro de gaiolas, privando-os do indescritível espetáculo de voar.



Nathália Carmem
Todo ano é igual: da metade de novembro em diante, não falamos em outra coisa a não ser Natal e Ano Novo. É uma correria danada; todos querem comprar presentes (ou ganhar), comprar roupas novas, fazer uma linda ceia e celebrar as boas festas de fim de ano. E enquanto muitos lucram com esse sistema avassalador que é o capitalismo, principalmente nessas datas, há quem diga que tudo isso é desnecessário, há quem diga que justamente por causa de todas as jogadas comerciais o Natal e o Ano Novo perdem seu brilho, e deixam de ser datas fraternais e amorosas. Pois eu acho, e digo que, mesmo assim, é muito legal podermos desejar um feliz Natal ou um feliz Ano Novo a quem quer que seja. É claro que poderíamos fazer isso sempre, todos os dias, mas a verdade é que não fazemos e, se fizéssemos, seria um tanto cansativo. É legal esse negócio de divisão do tempo, de termos um dia pra começarmos o ano, isso renova as esperanças. De certa maneira, é como se começássemos tudo de novo.
Eu não sei o que esperar de 2009, que não tenha esperado de 2008. Acho que a gente sempre deseja as mesmas coisas, né? Ou sou só eu que sempre quero tudo igual? Enfim, realmente não sei. A verdade é que a culpa é sempre nossa. Se 2008 não foi bom, pode ter certeza que não é porque o ano termina em 8 ou qualquer coisa do tipo, e sim porque talvez você tenha falhado. Essas teorias são tão estapafúrdias que a gente até ri! (Mesmo eu que sou um pouco supersticiosa vejo que essa é forçada demais!) E se 2008 foi um ano maravilhoso, isso quer dizer que você foi muito bem. Enfim, anime-se ou conforme-se. Mas não culpe os outros, os números, os astros ou qualquer outra coisa, afinal, cada um faz o que bem entender do seu ano novo. E 2009 já chegou! Já decidiu o que você vai fazer com ele?