Nathália Carmem

Parece que todo ser humano foi feito exatamente do mesmo jeito, com a mesma mania: a de achar que nunca está bom o suficiente, que nunca se é bom o suficiente. E não somos mesmo. Mas aí eu pergunto: o suficiente para quem? Sim, por que estamos constantemente nos definindo, uns para os outros; adoramos dizer: “eu sou assim, assado, etc.”. Amamos os rótulos. Mas você já reparou o quanto é difícil ser fiel a você mesmo? Afinal, quem é você?
E a resposta pra essa pergunta é a mais traidora de todas as respostas. Simplesmente, meu amigo, porque você não sabe. Eu posso dizer que sou baixa, branca, cabelos castanhos, magra, estudante, professora, amiga de muitos, um saco pra alguns, possivelmente, boa filha (eu acho!), ótima irmã (tenho certeza!), excelente namorada (haha), e por aí vai, mas uma hora vem o golpe. Porque você não é só você, propriamente dito. Você é aquilo que você pensa, aquilo que você quer, aquilo que você tem, aquilo que você sente... você é aquele sonho, aquele desejo, aquela saudade, aquele abraço, aquele riso, aquele choro, uma legião de “aqueles e aquilos”. E isso tudo muda, você conquista algumas coisas, abre mão de outras, e vai sendo e deixando de ser, ao mesmo tempo. Às vezes eu sinto como se me desenhasse e ao mesmo tempo eu me apagasse. Não gosto de renunciar a nada. Ainda não aprendi a desistir de nenhum sonho meu, a desistir de nada daquilo que me faz ser quem sou. Mas eu sei que faço isso, quem dera eu pudesse ter tudo e não me trair jamais! Afinal, o que é “tudo”? Será que o “tudo” é suficiente pra nos satisfazer? Como eu só posso falar por mim, tenho quase certeza que mesmo no dia em que eu tiver tudo o que eu sempre quis, ainda assim não será o suficiente. Pra quem? Pra mim mesma. A verdade é que o nada é pouco, e o tudo não basta.
Nathália Carmem
Estive pensando a respeito da reforma ortográfica na língua portuguesa que começou a vigorar no dia 1º deste mês, reforma à qual ainda não consegui me adaptar. Tudo bem que não há mais nada a ser feito, e eu vou ter que reaprender a escrever (o que me deixa muito, mas muito inconformada), porque escrever errado por aí é vergonhoso; e tudo bem que não é uma mudança total, tampouco de todo má, haverá vantagens com essa unificação. Ou, pelo menos, a intenção é essa. Mas acredito que as desvantagens e os aborrecimentos serão maiores, e vou dizer por que.
Em primeiro lugar, eu tenho um verdadeiro amor pela língua portuguesa, e me gabo de saber escrever bem (gramaticalmente falando), principalmente num país como o nosso, onde a leitura e a escrita são hábitos de poucos. Saber onde colocar trema, acentos, hífens sempre foi uma grande qualidade minha, graças a Deus. E agora, como já disse no parágrafo anterior, vou ter que aprender tudo isso de novo, ou grande parte, enfim, um aborrecimento desnecessário.
Uma outra conseqüência, ou melhor, consequencia é termos que nos acostumar com a quantidade de “us” que ficarão sem trema. Chega a ser ridículo: o “quen” de conseQUENcia ser escrito do mesmo jeito que o “quen” de QUENte. Ora, se há dois pontinhos em cima do “u”, com certeza eles não estão ali por puro enfeite, eles TÊM uma função. Ou, por acaso, você acha que não há diferença na pronúncia de ”consequencia” para “quente”? Ai, língua portuguesa... onde é que você vai parar?
Palavras como ideia, assembleia, heroica, perdem o acento agudo, o que, é lógico, marcava a pronúncia dessas palavras. É lógico que ninguém vai falar diferente, mas que fica uma bagunça só, isso fica. Eu não entendo como isso pode simplificar a nossa língua. Mudar, unificar, eu até concordo. Mas facilitar? Não, a não ser que seja para aquele grupo de pessoas que já não sabia acentuar, agora então vai ser uma maravilha. Aliás, tem uma outra coisa que muita gente não sabia (sim, porque agora não adianta mais saber): o acento que diferenciava o “para” do verbo “parar”, que era o acento agundo na penúltima sílaba, do “para” preposição. Novamente teremos duas palavras escritas de maneira idêntica, com significados totalmente diferentes.
Mas, como a questão é irrecorrível, não adianta reclamar. O melhor que se tem a fazer é pensar nas vantagens (se é que elas virão), e são elas: uma maior troca literária entre os países lusófonos, que possibilitará um intercâmbio cultural também maior, além da unificação propriamente dita na escrita.
Não sei se essas mudanças incorporadas à ortografia, que não são poucas, eu citei só as mais, digamos, esquisitas, serão benéficas ao nosso idioma, porém, é assim que vai ser daqui pra frente. O nosso português, coitado, está sofrendo. E eu também. Preciso escrever as novas regras em algum lugar e memorizá-las o quanto antes. Escrever errado por aí não dá né?
Nathália Carmem
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
muda-se o ser, muda-se a confiança;
todo o mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades...
Continuamente vemos novidades,
diferentes em tudo da esperança;
do mal ficam as mágoas na lembrança,
e do bem (se algum houve), as saudades...
O tempo cobre o chão de verde manto,
que já coberto foi de neve fria,
e, enfim, converte em choro o doce canto...
E, afora este mudar-se cada dia,
outra mudança faz de mor espanto,
que não se muda já como soía...
(Luís Vaz de Camões)
Nathália Carmem


O mundo inteiro parece ter se encantado com este homem. O presidente eleito dos Estados Unidos parece ter conquistado não apenas a maioria do povo americano como a esperança de muitos de nós, adormecida e abalada já há algum tempo por George W. Bush. Há muito um homem não era tão falado como ele; e desde os atentados de 11 de setembro que não falávamos tanto nos Estados Unidos.
É claro que um país tão poderoso é sempre muito focado, seja no campo político ou no social, e está sempre no centro dos acontecimentos mais importantes do mundo, mas é diferente. Hoje, assim como em setembro de 2001, é como se o planeta estivesse se comovendo com os EUA, dando seu apoio. Hoje, fala-se dos Estados Unidos com uma dose de aprovação, como se o mundo estivesse dando “sim” a Barack Obama.
Com a arrebatadora campanha e, um pouco depois, com a vitória de Obama, o primeiro presidente negro dos Estados Unidos, o planeta se mobiliza a favor deste homem que desde já parece estar mudando as coisas e que promete lutar em prol da restauração da imagem americana perante o mundo. É como se os americanos estivessem pedindo desculpas, e como se essas desculpas estivessem sendo aceitas. As várias comemorações (com fogos de artifícios e tudo mais) feitas em vários países, inclusive africanos, no dia da vitória de Obama, são prova disso.
Eu nunca entendi bem o por quê de tanto repúdio aos americanos e ao seu país. As pessoas confundem governantes e suas megalomanias com os povos e os países por eles representados. Como se todo americano fosse igual a George W. Bush. E, afinal de contas, se assim fosse, nós brasileiros, nos veríamos em péssimas condições. Nunca fomos exatamente um exemplo de povo que sabe escolher bem seus governantes. O que eu quero dizer é que, se os Estados Unidos invadiram o Iraque, torturaram prisioneiros de guerra, mataram Saddam Hussein, jogaram bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, entre outras coisas, a culpa não é do povo, e sim de homens extremamente gananciosos, inescrupulosos e poderosos; e que Bush é só mais um desses homens. Se Obama também é assim, só o tempo dirá. Mas, se assim for, a culpa é dele, e não dos americanos. Já pensou se pudéssemos ser culpados pelos atos daqueles que elegemos? Melhor nem pensar!
É isso que me deixa com medo: quando há muita expectativa, a frustração é quase que certa. O mundo parece se apaixonar por Obama, e esquecer que ele é humano, e pode fazer tudo diferente, mas também pode fazer tudo igual. Não que eu ache que ele seja isso ou aquilo, mas se ele puder corresponder a todas as nossas expectativas, será um milagre. Um milagre que nem Jesus Cristo conseguiu, diga-se de passagem.
Nathália Carmem

Chorar é um pouco triste, mas às vezes é inevitável. Ontem foi uma dessas vezes, um daqueles dias em que parece que, por mais que se tente evitar, o choro acaba saindo. E não adiantou tentar disfarçar, tentar me esconder pra que ninguém percebesse, porque parecia que era exatamente o que todos queriam ver, mesmo que inconscientemente.
Não sei se faço bem em deixar que me vejam chorar, mas afinal, que escolha tenho eu? Se, de repente, você acorda feliz da vida, cheia de planos para o seu dia, animada mesmo e, do nada, alguém resolve te frustrar, te magoar, te chatear e até te irritar, uma hora, por mais durona que você seja, você desaba. E acredite, eu NÃO SEI SER DURONA (mais uma pra minha lista). Quando duas das pessoas que você mais gosta no mundo acabam te deixando triste, as lágrimas são quase que imbatíveis. “Não é chique chorar em público”, é o que dizem, mas eu pergunto: “Nessas horas, alguém se lembra disso?”
Ainda bem que não foi preciso uma crise de choro (o que me deixaria com olheiras profundas e um nariz gigantesco e rosado), tudo se resolveu relativamente rápido, e surpreendentemente bem, diga-se de passagem. Mas eu preferiria ter chorado rios de raiva e tudo o mais, do que me sentir uma completa idiota, que foi como me senti ontem. Triste, né? Credo, fazia séculos que eu não me sentia assim.
O que será pior? Chorar por não ser como você gostaria de ser? Ou chorar por não ser aquela que gostariam que você fosse? As pessoas sempre pedem pra eu entender, pra eu me acalmar, acreditar, confiar... Mas e se eu não for capaz? E se eu, simplesmente, não quiser? Representar, segurar o choro é tão angustiante quanto o que te faz chorar.
Hoje, eu estou feliz, completamente feliz. E o que eu deixo pra você que está lendo isso é mais do que queixas, dramas e reclamações. É mais que um desabafo: é a certeza de que chorar é bom, e realmente acalma. Se você ficar com vontade de chorar, seja pelo motivo que for, não segure, chore. Se você puder se controlar, é claro, controle-se. Mas se você for como eu, desde sempre conhecida como uma “banana chorona”, jogue tudo pro alto e chore mesmo. Não esconda suas aflições. Quem disse que quem chora é fraco? Fraqueza é não saber chorar, ou não ter porque chorar. É como alguém que não vê graça em nada e consequentemente não tem motivos pra sorrir, e quando os tem, não sorri, porque não sabe.
Bobagem esse negócio de chorar com classe, chorar escondido. Bom mesmo é chorar no colo de alguém e receber a mão que te coloca pra cima. Seja de uma amiga, do namorado ou a de Deus. E quando levantar, lembre-se, a vida existe para que a vivamos com dignidade. E chorar, assim como sorrir, faz parte da vida. Sorria sempre e chore quando sentir vontade, mas não deixe nunca de tentar ser feliz.
Nathália Carmem

Quando eu vi as chamadas da Minissérie “Maysa – Quando Fala o Coração”, fiquei encucada. Ou essa mulher era só mais um produto da mídia, só mais uma personagem atirada em cima de nós sem a menor utilidade, com a desculpa de uma homenagem a uma cantora de quinta (sim, eu pensei que essa tal de Maysa não tinha assim tanto talento, tanta história), ou eu era uma completa alienada que não tinha a menor idéia do tamanho da importância dessa mulher. Só não fiquei mais aborrecida comigo pela minha ignorância porque afinal de contas eu só tenho 19 anos, não conheci pessoalmente o trabalho de Maysa.
Você deve estar pensando que eu sou muito facilmente seduzida, conquistada. Pois eu até posso ser, mas não quando o torço o nariz logo no início, não quando eu faço o que fiz com a minissérie, rejeitei antes mesmo de ver. E o que aconteceu foi que, ontem, se não me engano no segundo capítulo, entrei na sala e minha irmã estava assistindo, e algo me chamou a atenção. A Maysa, aquela que eu achava que era uma cantora de quinta, cantava muito bem, e compunha músicas lindas. Mais do que isso, a Maysa que eu via na televisão era uma mulher extremamente impressionante. Tinha um sonho, e o colocou acima de tudo, até mesmo do próprio filho. Não vim aqui propagandear nada, até porque nem precisa, ninguém agüenta mais os comerciais por causa disso. Mas achei que fui injusta e até preconceituosa, e agora é como se eu estivesse pedindo desculpas. Também não estou aplaudindo Maysa por tudo o que ela fez, porque particularmente não a aprovo em muitas coisas, e também não sou tão ingênua a ponto de acreditar piamente em tudo o que se passa na série, mas virei fã dessa mulher tão transgressora, tão intensa, tão humana. Além, é claro de sua voz e seu talento ímpares, isso sem falar da interpretação. To LOUCA pra ver a cena em que ela canta “Ne me quitte pas”.
A história não poderia ser contada de melhor maneira que não a não-linear. Maysa não era certinha, normal, ordenada, e sim passional, impetuosa. E sabe de uma coisa? Maysa era diferente, muito diferente, porque era ela mesma numa época em que todos tinham que ser iguais, querer as mesmas coisas e sonhar do mesmo jeito. Pequeno, contido, acomodado.
“Se todos fossem iguais a você
Que maravilha viver
Uma canção pelo ar
Uma mulher a cantar
Uma cidade a cantar
A sorrir, a cantar, a pedir
A beleza de amar
Como o sol
Como a flor, como a luz
Amar sem mentir, nem sofrer
Existiria a verdade
Verdade que ninguém vê
Se todos fossem no mundo
Iguais a você”
(Se todos fossem Iguais a Você)
Nathália Carmem
É fato que só invejamos aquilo que é belo, aquilo que, em nossa opinião, é o melhor. Eu invejo talentos. Não que eu não seja especialmente talentosa, sinceramente eu acho que todos temos algo que nos diferencia uns dos outros; mas eu não vou revelar aqui minhas maiores qualidades, e sim as minhas limitações. Acreditem, se estou escrevendo isso é por que preciso me livrar deste triste pensamento que não quer me largar: “Como eu sou invejosa!”
Quanta coisa eu já aprendi! Quanta coisa eu já conheço! Deveria me dar por satisfeita simplesmente pelas coisas que eu sei. Mas as coisas que eu não sei (ou não sei fazer bem), em vez de serem metas, objetivos a ser conquistados, acabam se tornando desculpas minhas para invejar, uma vez que o pecado da preguiça (de aprender) é muito mais forte em mim, e acaba vencendo.

Coisas que eu não sei:

- Gostar de chuchu, quiabo e maxixe.
- Diferenciar o verde-claro do azul-claro.
- Falar italiano.
- Estar sempre linda, maquiada e gostosa.
- Organizar meus horários de estudo.
- Ficar solteira.
- Não me irritar com argentinos no futebol.
- Não odiar o Paysandu.
- Esperar.
- Cantar
- Ser mais desinibida.
- Ser mais misteriosa.
- Ser mais fechada.
- Correr ou nadar rápido.
- Inventar apelidos.
- Ser engraçada.
- Controlar meus cartões de crédito.
- Desistir das minhas amizades.
- Não confiar nos outros.
- Perder
- Controlar ou evitar pensamentos desprezíveis.
- Ser meiga
- Proteger sempre todos que eu amo
- Trabalhos segundo as regras da ABNT
- Costurar
- Fazer pudim.
- Ter saco pra aturar raps.
- Não sentir inveja de quem sabe fazer tudo isso e não pensa em besteiras desse tipo.

Quedrogadevida!
Nathália Carmem

Se amar é simplesmente estar por perto
Se amar é sofrer quando não se pode estar junto
Se amar é procurar ter sempre mais carinho para dar
Se amar é nunca sentir frio
É se descontrolar
É ouvir canções em qualquer frase
É a cumplicidade, a passividade
É sintonizar sentimentos
Então eu te amo
Vou te amar pra sempre
Até em enquanto eu achar que é pra sempre
Enquanto meus carinhos bastarem
E, ao mesmo, tempo, sejam inúteis
Para nos conter, nos buscar
Sempre, sempre
Não haverá distâncias entre nós
Sonharemos juntos
O mesmo sonho
Por mais absurdo que ele seja
O teu encanto é a tua arma
Contra qualquer hesitação minha
Como se eu conseguisse hesitar
Diante de tanta doçura
Não haverá carências entre nós
Sentiremos tudo ao mesmo tempo
Com a mesma intensidade
Num ritmo perfeito, suave, apaixonado
Eu falo do Amor em sua mais linda forma
Do Amor Supremo, do Amor Eterno
Pode ser daqui a alguns dias,
Ou anos
Pra mim, começou desde agora.
Se a gente quiser, a gente nasce de novo
A gente se refaz
Só pra sermos um do outro
Cada vez mais.
Nathália Carmem
Vivo com a cabeça no “mundo da lua”, muitos dizem. Se é verdade absoluta, nem eu mesma sei. O fato é que, o que pode ser bastante aborrecido para alguns, para mim é delicioso. Não há nada mais bonito do que olhar distraidamente para qualquer lugar, pensar em várias coisas ao mesmo tempo e até pensar em nada. Hoje a tarde, enquanto todos estavam muito ocupados aqui em casa, fui até a janela do meu quarto e fiquei ali por um bom tempo. Olhei o céu, as casas, as pessoas nas ruas, as pessoas nos carros, os cachorros de rua, os gatos nos muros de suas casas, o sol, o céu de novo, os pássaros... E fiquei olhando para estes últimos. Olhando e pensando em como são, de certa forma, mágicos. Na hora eu pensei em fazer uma poesia, ou até em escrever um conto, depois desisti. Por mais que eu pensasse, palavras não foram bastantes para descrever o tamanho da minha admiração, carinho e, sim... Inveja desses animais tão abençoados. Subitamente, e por mais insano que possa parecer, me deu uma vontade enorme de voar.
E você pode até pensar que é besteira minha ou ingratidão com Deus, já que ele me permitiu pensar, raciocinar, falar, em vez de me dar asas, penas, o dom de cantar lindamente e morar em árvores. Mas acredite, naquele instante, eu trocaria a minha vida pela de um pássaro qualquer. Passou pela minha cabeça, também, que cada pássaro deve ter uma função especial, seja ela de simbolizar a paz, como as pombinhas, de simbolizar o verão, como as andorinhas, de divertir as pessoas, como os papagaios falantes, e até de agouro, como muitos acreditam que assim o fazem as corujas, gralhas, corvos e etc.
Quando ia pra Mosqueiro, há algum tempo atrás, e ficava na casa da minha avó, que tem um quintal imenso, eu sempre colocava em cima do muro pedaços de pão, de frutas e até sementes depois do café da manhã e do lanche da tarde. Era uma maravilha observar a grande quantidade de aves que ali apareciam e que pareciam se debruçar e apreciar um banquete. Às vezes até havia algumas rixas. Lembro-me bem que o bem-te-vi era quase sempre o mais encrenqueiro, mas todos eram umas graças. Eu não ousava me aproximar, pois eles fugiam ao menor e qualquer sinal de tentativa minha, mas eu não me importava. Sempre fui fascinada por bichos e preferia mantê-los ali, ao alcance da minha vista e, ao mesmo tempo, longe das minhas mãos, mesmo que eles nunca mais voltassem. Mas eles sempre voltavam! E quando eu vinha embora, que falta isso me fazia! Aqui eu moro em apartamento, e não tenho muro. E não é que, em algumas raríssimas vezes, flagrei passarinhos na cozinha? Mesmo assim, fica muito mais difícil manter esse tipo de contato, o jeito é olhar pela janela mesmo.
Pois bem, se eu fosse um pássaro, faria questão de passar cada dia num lugar, mesmo que isso implicasse numa total desestruturação nos fluxos migratórios naturais da minha espécie. Eu apareceria em todos os biomas possíveis, mesmo que isso surpreendesse os biólogos mais experientes. E então eu vi que, humana e limitada como sou, mesmo assim, talvez eu ainda seja mais abençoada que o mais lindo dos pássaros. Abrir mão da sabedoria a favor do instinto? Não, eu não estaria preparada. Voar deve ser surreal, fascinante, esplêndido. Mas também se pode voar com os pés no chão, talvez sem o mesmo brilho, sem a mesma graça, mas todos podemos abrir asas e voar para onde quisermos.
Nós, homens, somos livres, e mesmo que estejamos trancafiados em alguma cela, ainda assim, podemos voar. Os pobres coitados dos pássaros só têm as asas para alçar vôo, e isso quando algum famigerado não os coloca dentro de gaiolas, privando-os do indescritível espetáculo de voar.



Nathália Carmem
Todo ano é igual: da metade de novembro em diante, não falamos em outra coisa a não ser Natal e Ano Novo. É uma correria danada; todos querem comprar presentes (ou ganhar), comprar roupas novas, fazer uma linda ceia e celebrar as boas festas de fim de ano. E enquanto muitos lucram com esse sistema avassalador que é o capitalismo, principalmente nessas datas, há quem diga que tudo isso é desnecessário, há quem diga que justamente por causa de todas as jogadas comerciais o Natal e o Ano Novo perdem seu brilho, e deixam de ser datas fraternais e amorosas. Pois eu acho, e digo que, mesmo assim, é muito legal podermos desejar um feliz Natal ou um feliz Ano Novo a quem quer que seja. É claro que poderíamos fazer isso sempre, todos os dias, mas a verdade é que não fazemos e, se fizéssemos, seria um tanto cansativo. É legal esse negócio de divisão do tempo, de termos um dia pra começarmos o ano, isso renova as esperanças. De certa maneira, é como se começássemos tudo de novo.
Eu não sei o que esperar de 2009, que não tenha esperado de 2008. Acho que a gente sempre deseja as mesmas coisas, né? Ou sou só eu que sempre quero tudo igual? Enfim, realmente não sei. A verdade é que a culpa é sempre nossa. Se 2008 não foi bom, pode ter certeza que não é porque o ano termina em 8 ou qualquer coisa do tipo, e sim porque talvez você tenha falhado. Essas teorias são tão estapafúrdias que a gente até ri! (Mesmo eu que sou um pouco supersticiosa vejo que essa é forçada demais!) E se 2008 foi um ano maravilhoso, isso quer dizer que você foi muito bem. Enfim, anime-se ou conforme-se. Mas não culpe os outros, os números, os astros ou qualquer outra coisa, afinal, cada um faz o que bem entender do seu ano novo. E 2009 já chegou! Já decidiu o que você vai fazer com ele?