Nathália Carmem
Daqui a alguns anos, vou ter um milhão de reais. Um milhão não, um bilhão. Vou ser a pessoa mais linda, popular e querida do mundo. Ou, pelo menos, vou ser tudo isso só pra Ele. Vou viajar pra caramba. Conhecer gente em todos os lugares do mundo. Um dia, eu vou aprender a cantar, vou dançar tango, escrever um livro, pintar um quadro. Daqui a alguns anos, eu vou aprender a gostar das pessoas como elas são. Não me deixarei contaminar ou alienar pela mídia, pelo sistema ou por qualquer outra coisa. Um dia, vou jogar bola como um homem; conhecer o Rogério Ceni, o Luís Fabiano e o Diego Souza.
Um dia, vou comprar um carro. Vou comprar, também, um shopping (com todas as lojas pra mim, é claro); uma cobertura duplex, um apartamento de frente pra praia da Barra (RJ), uma fazenda (só pros meus bichos), um avião pra minha mãe, uma lancha pro papai e um cavalo pra Bia. Um dia eu volto a acreditar em contos de fadas, e volto a acreditar que posso muito bem esbarrar com o Príncipe William, fazer ele se apaixonar por mim e me casar com ele, só pra ser Princesa (por que não?). Um dia vou fazer uma pirâmide de bacuri com açúcar só pra mim. E quando eu estiver bem velhinha, posso muito bem descobrir uma fonte da juventude (por que não?).
Espetáculo do balé russo? Boates em Nova Iorque? Roleta e BlackJack em Las Vegas? Esportes Radicais na Nova Zelândia? Esquiar em Aspen? Compras na Champs’Elisées? Visistar a DisneyWorld? Farei uma dessas atividades em cada final de semana. Quando eu enjoar, penso em outras. Vou ser a pessoa mais inteligente do planeta, e SEM ESTUDAR! Vou falar todas as línguas e dialetos. Nada vai ser problema pra mim. A fome, a miséria e a injustiça serão exterminadas e, junto com elas, todas as outras mazelas sociais. Não vou ter medo de nada.
Vou saber voar, levitar, atravessar paredes, ficar invisível e até encolher. Um dia, eu vou dar uma voltinha lá pelo Espaço. Vou aprender artes marciais. Um dia, vou ter a paciência de um monge tibetano. Um dia, eu aprendo a valorizar o meu interior, e paro de me preocupar com essas futilidades, bobagens de moda, estética e beleza. Um dia, eu vou ser diplomata, professora de francês e bailarina de fama internacional. Como eu vou fazer isso eu ainda não sei. Um dia, vou ter o meu nome na Calçada da Fama, e uma estátua de cera (por que não?). Um dia, eu vou parar de esquecer onde guardo as minhas coisas. Vou ser muito charmosa. Um dia, eu vou casar e ter treze filhos (dez cachorros e trigêmeas). E aí, então, a minha vida vai ter sentido.
Algumas coisas são dificílimas de se conquistar. E outras até impossíveis. Mas existem aquelas que a gente adoraria e poderia muito facilmente fazer, mas deixamos pra depois ou “pra qualquer dia desses”. É fascinante a capacidade que temos de sonhar, planejar, imaginar nosso futuro, porém, mas importante que isso é sabermos realizar. Alguém sempre me diz que “sonhos existem para serem realizados”. Sábio, não? Eu sonho muito, muito mesmo. Mas vou parar de ficar só na imaginação e vou pôr em prática. E vou começar pela pirâmide de bacuri com açúcar.
Nathália Carmem

Cansa dizer que o tempo não cura. Me encarreguei de não procurar verdades, mudanças, milagres, curas. Cansei. Porque o tempo é puro disfarce, ilusão. Os lugares, as lágrimas, as dores, as pessoas só adormecem dentro do peito, não morrem jamais. Coisa delicada, esse negócio de querer. Como a gente sabe se o que a gente quer é o melhor pra gente? Só existe um riso dentro de mim: um riso debochado de mim mesma, magoado comigo mesma. É inútil a sabedoria de que o tempo passa.
Quem me dera ser feliz pra sempre.
Nathália Carmem

Ok, eu sei que já se passaram alguns meses desde a morte de Michael Jackson. Não pense você que eu sou desatualizada. É puro charme: retomar um assunto que as pessoas já estavam esquecendo e que a mídia já cansou (finalmente!) de alardear. Coisa mórbida, né?
Quem me conhece sabe, nunca fui muito fã dele. Na verdade, nem simpatizar com ele, eu simpatizava. Admirava-o como artista que era, talentoso, sensível, impressionante. E como artista eu afirmo sem medo que ele é imortal. Só ele criou tanto, inovou tanto no universo pop, com clipes futuristas, voz singular e coreografias geniais.
Michael foi fonte de alegrias para milhões de pessoas no mundo inteiro, e de revolta também. Sempre achei que dentro dele havia um anjo e um demônio, mais do que em todos nós. Se posso dizer sem culpa que não era fã, também não posso negar que não lhe era indiferente. Michael tinha uma presença esmagadora. Causou uma histeria mundial, um amor incondicional em seus fãs, que o defendem incansavelmente e comoveu e arrancou lágrimas do planeta inteiro, principalmente no dia de sua morte.
Essa sim, pegou todos de surpresa, e até agora, quatro meses depois, é extraordinariamente estranho assimilarmos que Michael Jackson está morto. Sabemos que a infância dele foi conturbadíssima, e que Michael e os irmãos tiveram que aprender a gostar de música e a fazer dinheiro com ela. Uma educação cheia de rigor e até militarismos, de um pai que parecia se preocupar apenas com a realização artística e profissional dos filhos e com os lucros no final do mês. Se é que pensava nos filhos...
Juntos, fizeram sucesso e até ganharam prêmios, mas Michael já se destacava pelo timbre e pela graciosidade. Com o tempo e por misteriosas razões o Jackson Five passa a se chamar The Jacksons, mais ou menos na época em que Michael, paralelamente, lançava seu primeiro cd solo.
A partir daí, foi só uma questão de tempo até ele se tornar O Rei do Pop. Estranhamente, com o sucesso e a consagração, vieram pesadelos e polêmicas. O mundo começa a conhecer um outro lado do astro: um lado obscuro, coberto de mistérios. A perseguição paterna, para muitos, é a justificativa. Pessoalmente, não acredito muito nisso. Ou melhor, acredito. Mas sinceramente não acho que justifique tudo. O próprio Michael dava essa razão, quando perguntado sobre seus motivos para fazer tantas cirurgias plásticas: dizia que o pai o considerava feio. E o próprio pai assumiu ter dito, várias vezes ao filho, mesmo quando ainda era criança, que seu nariz era grande demais. Também acho possível Michael ter desenvolvido distúrbios de personalidade em razão das surras cruéis que levava. Enfim, se você me perguntar o que eu acho deste pai, é fácil: isso não era um pai. Mesmo assim, não acredito que o pai de Michael tenha influenciado na sexualidade um tanto esquisita dele. E eu digo esquisita porque a gente simplesmente não sabia se ele era homossexual, hetero, bi ou qualquer outra coisa. Não que isso importe, mas... Uma pessoa assim é ou não é estranha? E ainda tem a suspeita de pedofilia.
Os fãs mais apaixonados que me desculpem, mas vou dar minha opinião: ele era. Morar num rancho chamado “NeverLand”? Ter um parque de diversões dentro? Inventar passagens secretas para brincar “de se esconder”? Dormir com criancinhas? Pedir que lhe dêem leitinho e contem histórias antes de dormir? E ainda querem me convencer que ele era inocente? É demais pra mim.
Quanto à transformação de Michael, também não acredito na história da doença. Talvez fosse verdade, mas com tanto dinheiro, não tinha outra solução? Só mudando de cor mesmo? Não sei, não.
Agora uma coisa eu tenho que admitir: Michael também tinha seu lado bom. Abraçou causas sociais e anti-racistas e sinceramente eu creio que de boa-fé. Portanto, pelo artista hiper talentoso que foi, pela genialidade que tinha, pela graciosidade nos palcos, por toda a violência que sofreu, pelas coisas boas que fez, e pelo que disse sua filha, no dia da cerimônia do enterro do pai, eu perdôo e dou adeus a Michael Jackson. Talvez ele tenha sido realmente uma vítima, talvez não. Agora, isso tudo é tão pouco relevante! Inclusive o meu perdão... Afinal, eu também tenho um anjo e um demônio dentro de mim.
Nathália Carmem
“Ele estendeu o seu belo rosto aos ímpios, para que o cobrissem de escarros. Permitiu-lhes taparem-lhe os olhos, esses olhos que governam o universo. Expôs as costas ao látego. [...] Submeteu a cabeça às pontas dos espinhos, essa cabeça diante da qual devem tremer príncipes e poderosos. Entregou-se, Ele próprio, às afrontas e às injúrias. Enfim, suportou pacientemente a cruz, os pregos, a lança, o fel, o vinagre, permanecendo sempre cheio de doçura e de serenidade. Não abriu a boca, como cordeiro levado ao matadouro, como ovelha emudecida nas mãos do tosquiador.” (Is 53, 7).

Eu não tenho palavras suficientes para expressar a admiração que sinto ao ler a citação acima. Tenho menos palavras ainda para expressar a vergonha que sinto por não conseguir ser assim. As vezes, podemos até achar que isso é pedir demais, afinal, quem é que pode ser como Jesus e passar por tantos sofrimentos sem perder a fé, a doçura e o amor ao próximo? Quem é que, mesmo injustiçado e agredido por alguém, ainda assim consegue amar esse alguém? No máximo, dizemos que perdoamos, mas sabemos que, no fundo, guardamos mágoa e rancor e assim vamos vivendo.
É normal não gostarmos de alguém sem motivo (ou com, pois não faz muita diferença), é normal falarmos, julgarmos uns aos outros, é normal vivermos em competitividade. A vida nos faz assim. E é por isso que cada vez mais, temos que nos aproximar de Deus e, ao contrário do que muitos pensam, não é nem um pouco difícil.
Eu, por exemplo, me sinto mais perto Dele quando perdôo, porque Deus é Amor e Perdão. Isso, é claro, quando eu consigo. Mas se você também não consegue perdoar, tente se aproximar de Deus de outra maneira: amando ao próximo. Só assim conseguirá o perdão divino.
Nathália Carmem

O tráfico de drogas escreve a vida e a morte de muitas pessoas. É quase como se os traficantes fossem os produtores, diretores, roteiristas de uma peça; na qual eles decidem prontamente quem vai chegar até o final, quem vai morrer logo no primeiro ato, ou talvez no segundo, tanto faz. Porque, na realidade, é isso o que acontece. E é muito comum ouvirmos lamentações acerca das “vidas inocentes” que o tráfico tirou; é muito comum, e até muito fácil, reclamar das ações – ou da inércia – da polícia; mas eu nunca vi, ou ouvi, alguém se conscientizar da própria culpa. A culpa é sua, minha, nossa. Todos somos culpados.
Somos culpados quando passamos pelo sinal e ignoramos as crianças pedindo esmolas, somos culpados quando agimos com preconceito, somos culpados quando excluímos. Somos culpados quando achamos, de maneira mais hipócrita impossível, que o simples fato de sermos “plateia” não nos faz atores. Até que ponto podemos dizer que somos inocentes? Até que ponto podemos dizer que somos vítimas, se somos, também, algozes? Quando o tráfico mata alguém aparentemente, por engano, ou de maneira indireta, é cruel, é triste, principalmente para a família dessa pessoa, mas isso não quer dizer que ela seja inteiramente inocente.
O desrespeito ao próximo alimenta a intolerância que, por sua vez, destrói a capacidade de discernir o que é “certo” e o que não é. Esse discernimento é essencial para a vida em sociedade de maneira construtiva. Pessoas desrespeitadas tendem a se sentir fora, à margem da sociedade. Essas são as verdadeiras vítimas. Vítimas do sistema fortemente discriminatório e competitivo, que insiste em pisoteá-las. Vítimas da corrupção de políticos covardes e sem vergonha na cara. Essas pessoas são mais que vítimas, são massa de manobra, são marionetes que caem, lamentavelmente, nas mãos do tráfico.
Por isso e, para o nosso próprio bem, já que só conseguimos olhar para o próprio umbigo, é importante que comecemos a mudar nossos hábitos e nossas ações. Além de reclamar de tudo o que há de errado, façamos aquilo que devemos fazer: unir, em vez de separar. Não estou pedindo para que você dê dinheiro no sinal ou leve um mendigo pra dormir na sua casa, embora eu já tenha pensado em fazer isso, acredite. Eu clamo é por tolerância, respeito e inclusão social. Abandonar nossas crianças é a mesma coisa que entregá-las nas mãos de bandidos, a mercê de traficantes ou da violência das ruas.
Quando abrimos mão de educar, em nosso lugar, vem alguém que não hesita em ensinar a atirar. Quando fingimos não ver o excluído, uma hora ele cansa e vai se fazer ser visto, nem que pra isso tenha que estar com uma arma na mão.
E não pense que quando as cortinas se fecharem você ainda estará na platéia. O mundo dá muitas e muitas voltas. E numa delas você pode parar na mira de um revólver. Seja você inocente ou não. O tráfico é forte e impiedoso. O tráfico é trágico.
Nathália Carmem

That smile on your face
The thought that can't erase
From my mind
In this lonely complicated world
You'll never know what you'll find
I don't want to leave when I'm in your arms

I'm So Happy - The Veronicas.

Nathália Carmem
Ontem tive um sonho, ou melhor, um pesadelo que, por sinal, acho que durou a noite inteira. Sei que isso é loucura, mas realmente não parecia um sonho. Não sei se isso já aconteceu com você, mas parecia que eu estava tentando acordar e não conseguia, ou alguém não deixava. Realmente não sei. O que é mais estranho é que me lembro de ter acordado umas duas vezes durante a noite e, depois, quando eu voltava a dormir, o mesmo sonho continuava de onde tinha parado. Eu juro que ontem foi uma das piores noites da minha vida. Impressionante como o meu quarto e a minha cama, que são coisas que adoro, se tornaram lugares assustadores pra mim.
Quem me conhece sabe que eu tenho pânico de escuro, não durmo de luz apagada nunca, de jeito nenhum, nem que me paguem. Mas é claro que o meu pai, que faz o favor de achar que o meu medo é “frescura”, sempre apaga a luz depois que eu já estou dormindo. Pois pra você ver: ontem, eu estava com tanto medo, mas com tanto medo, que nem me mexer eu conseguia, nem pra acender a luz. Eu podia jurar que tinha alguém no quarto.
Deixe-me contar o sonho, afinal.
Estávamos, minha família inteira e eu, em casa. De repente, meu namorado e meu pai (os únicos que ainda não haviam chegado), aparecem completamente ensangüentados, feridos, surrados. Sabe quando a pessoa apanha tanto que mal consegue andar? Pois então. É lógico que ficamos muito assustados, e perguntamos o que havia acontecido. Eles disseram que ladrões haviam invadido o prédio, e que estavam matando todos os moradores, e roubando as casas, enfim, uma tragédia. Eu fiquei com tanta raiva do que fizeram com eles, que peguei uma arma (hahahahaha) e saí numa busca por vingança! (Atitudes assim me fazem ter certeza de que realmente foi um sonho) Logo que saí pela porta, uma mulher apontou uma arma pra mim, dizendo para eu entrar em casa. Eu, muito corajosa, é claro, não entrei. Enfrentei a mulher e tudo o mais... Ela disse que ia atirar em mim e mesmo assim eu saí correndo pela escada... (sou muito hábil e rápida com degraus) Aliás, trocamos tiros, sabe? Igual como fazem nos filmes...
Acontece que o prédio estava completamente tomado, e eu vi que não tinha chance. Adivinhe o que eu fiz: SIMULEI MINHA MORTE. Eu seeeei, esse sonho parece uma piada. Mas eu juro, juro, juro que ele não foi nem um pouco engraçado. Logo depois disso, nem sei se “meu plano genial” deu certo. Não sei como ficou minha família, nem meu pai, nem meu namorado. O que eu sei é que eu (ou o meu espírito, porque eu não sei se morri no sonho ou não) alcancei a mulher que me perseguia, e puxei o cabelo dela. E o que foi mais chocante em tudo, é que o cabelo não era dela. Ela usava uma máscara, por isso eu não a conhecia. Mas quando eu puxei o cabelo, a máscara caiu. E eu a reconheci. Lembro da expressão dela até agora.
É, eu preciso rezar mais antes de dormir.