Nathália Carmem
Estive pensando a respeito da reforma ortográfica na língua portuguesa que começou a vigorar no dia 1º deste mês, reforma à qual ainda não consegui me adaptar. Tudo bem que não há mais nada a ser feito, e eu vou ter que reaprender a escrever (o que me deixa muito, mas muito inconformada), porque escrever errado por aí é vergonhoso; e tudo bem que não é uma mudança total, tampouco de todo má, haverá vantagens com essa unificação. Ou, pelo menos, a intenção é essa. Mas acredito que as desvantagens e os aborrecimentos serão maiores, e vou dizer por que.
Em primeiro lugar, eu tenho um verdadeiro amor pela língua portuguesa, e me gabo de saber escrever bem (gramaticalmente falando), principalmente num país como o nosso, onde a leitura e a escrita são hábitos de poucos. Saber onde colocar trema, acentos, hífens sempre foi uma grande qualidade minha, graças a Deus. E agora, como já disse no parágrafo anterior, vou ter que aprender tudo isso de novo, ou grande parte, enfim, um aborrecimento desnecessário.
Uma outra conseqüência, ou melhor, consequencia é termos que nos acostumar com a quantidade de “us” que ficarão sem trema. Chega a ser ridículo: o “quen” de conseQUENcia ser escrito do mesmo jeito que o “quen” de QUENte. Ora, se há dois pontinhos em cima do “u”, com certeza eles não estão ali por puro enfeite, eles TÊM uma função. Ou, por acaso, você acha que não há diferença na pronúncia de ”consequencia” para “quente”? Ai, língua portuguesa... onde é que você vai parar?
Palavras como ideia, assembleia, heroica, perdem o acento agudo, o que, é lógico, marcava a pronúncia dessas palavras. É lógico que ninguém vai falar diferente, mas que fica uma bagunça só, isso fica. Eu não entendo como isso pode simplificar a nossa língua. Mudar, unificar, eu até concordo. Mas facilitar? Não, a não ser que seja para aquele grupo de pessoas que já não sabia acentuar, agora então vai ser uma maravilha. Aliás, tem uma outra coisa que muita gente não sabia (sim, porque agora não adianta mais saber): o acento que diferenciava o “para” do verbo “parar”, que era o acento agundo na penúltima sílaba, do “para” preposição. Novamente teremos duas palavras escritas de maneira idêntica, com significados totalmente diferentes.
Mas, como a questão é irrecorrível, não adianta reclamar. O melhor que se tem a fazer é pensar nas vantagens (se é que elas virão), e são elas: uma maior troca literária entre os países lusófonos, que possibilitará um intercâmbio cultural também maior, além da unificação propriamente dita na escrita.
Não sei se essas mudanças incorporadas à ortografia, que não são poucas, eu citei só as mais, digamos, esquisitas, serão benéficas ao nosso idioma, porém, é assim que vai ser daqui pra frente. O nosso português, coitado, está sofrendo. E eu também. Preciso escrever as novas regras em algum lugar e memorizá-las o quanto antes. Escrever errado por aí não dá né?